Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2010

Sinto sua falta

Doeu como dói uma punhalada o sorriso cínico a mim dirigido. Doeu como dói uma machadada o seu olhar frio, úmido. Doeu como dói uma martelada a indiferença sua para comigo. Doeu e ainda dói muito, mas você não saberá, porque não sabe o que se passa (apesar de achar que sim). Você espera coisas que não posso dar e então, a flor que eu te dei você deixa cair e não a pega de novo e o lírio fica caído e seca com o sol duro a sufocar. Sua vingança é cruel. Pena que eu nunca quis te magoar, pena que você não vê isso. Você virou as costas para mim e tudo que posso fazer é ver você partir. Você não sabe, você não vê, mas estou bem atrás torcendo para que um dia você pense em retornar o caminho ou até mesmo, apenas olhar para trás e então verá que, ao invés do que você pensava, eu nunca virei as costas, estava apenas brincando de rodar com os braços abertos só para ver se um pouco do mundo entrava pelos meus pulmões e me deixasse sorrir por um segundo que fosse. Paula Cristina.

Feliz 2011

Tinha me decidido a não fazer nenhum texto sobre o ano novo, tinha me decidido a deixar esse 2010 no passado, sem texto, sem lembranças. (In)felizmente me deparei com um dos textos mais pessoal e lindo e sincero que eu já tinha visto. Os textos de ano novo são tão clichês com os mesmos "que esse ano que vem seja melhor que o anterior" ou coisas do tipo e eu não queria algo clichê, porque o clichê remete ao passado e eu não queria relacionar um ano novo com um ano passado, com o passado. Mas este tinha um "que" a mais, uma inovação tentadora, um sorriso escondido, um metrô com explosivos, uma esperança escondida nas cicatrizes do mundo. E então de súbito eu me perguntei: "porque não um texto meu, sem esperança, sem medo, apenas um texto falando de uma mudança, de uma caminhada que muda a cada vírgula introduzida?" O passado sempre faz parte e eu não posso mudá-lo ou me esconder, lembranças são essenciais e no fundo eu sempre soube disso. Esse ano que passou

Saber sentir-se

Assim como Clarice Lispector lutava por sentir-se gente, cada um tem uma luta por sentir-se algo. Não sou diferente. Quereria eu sentir-me... A necessidade do sentir leva o ser humano ao ápice de ser, de viver. Sentir-se está entra as coisas mais sublimes e mais difíceis. Me admiraria conhecer alguém que sinta-se por completo. Teria essa pessoa como mestre espiritual de alto escalão e procuraria aproveitar ao máximo tudo que me dissesse, pois este é um dos maiores mistérios para os homens: saber sentir-se. Paula Cristina.

Feliz Natal, Merry Christmas, Frohe Weihnachten, Joyeux Noël, God jul, Mutlu Noeller

O tempo lindo, a brisa leve, a chuva querendo cair, a comida assando, as músicas tocando, os sorrisos estampados, a paz (mesmo quando os dias passaram ardidos, pesados, doloridos, difíceis). O natal por si só tem a paz esculpida. Até o dia (talvez) não se sente nada, mas o dia chega e tudo parece leve e tranquilo de novo. A casa ao longe lembrando tempos perdidos de hobbits e elfos, a casa ao lado lembra o natal brasileiro, a outra lembra o natal americano e a outra, o natal alemão. Todos em seu próprio estilo entram na séria brincadeira de deixar o natal entrar em suas casas e tocar seus corações. O vinho esperando ser aberto, o champagne esperando ser aberto, o whisky e a cerveja esperando serem deliciados, a leitoa, o peru, o chester, as saladas, o arroz de forno, todos esperando para serem provados. A festa começa, as pessoas conversam, riem, rezam, dançam, bebem, comem. Tudo é uma festa. O dia é uma festa. Que dia, que dia! Feliz Natal! Paula Cristina.

Jantar entre amigos.

Todos sentados à mesa, as velas postas delicadamente nas extremidades do centro, de modo a iluminar toda a sala. Os sorrisos lindos, meigos, carentes de afeto e de ternura. As vozes se alternavam pouco a pouco, de acordo com a conversa, de acordo com o interesse. A tarde foi linda. A noite foi perfeita. Todos divertiram-se. Paula Cristina.

Lembrança embaçada

Cinco anos esperando aquele ano chegar para que pudesse cantar aquela música tão ouvida por tanto tempo, para no final das contas se esquecer da música, da letra, da sensação. A noite gélida entrou pelo quarto aquecendo seu coração e a música começou a tocar por mero acaso... mas já não era a mesma, o torpor, a emoção já não eram dela. Aquela música já não era deles, era de alguém mais, de alguém desconhecido. Ele já não existia, não fazia diferença... ele já não era amor, apenas lembrança embaçada de um coração partido. Paula Cristina.

A satisfação

Silêncio. Desejo. Tentação. A boca suavemente percorreu suavemente cada parte do corpo, cada pedaço de carne exposta. O cheiro. O desejo. O silêncio. A tentação. A mão deslizando sobre a seda crua, procurando, apalpando, segurando tudo que era de direito seu. A respiração. O cheiro. O desejo. O silêncio. A tentação. O sussurro pausado guiando os momentos mais íntimos, sensuais, perversos. O gemido. A respiração. O desejo. O silêncio. A tentação. Os olhares se encontram para arderem no beijo louco, promíscuo, pedinte. A língua. O gemido. A respiração. O desejo. O silêncio. A tentação. A maçã caída no carpete, o champange pela metade na mesa de centro, a música sensual, a noite estrelada, a brisa noturna adentrando a parte do vestido que ela ainda tem em seu corpo, o corpo dele por cima, conhecendo cada parte do corpo dela. A sensualidade. A língua. O gemido. A respiração. O desejo. O silêncio. A tentação. As unhas arranhando as costas dele, os movimentos contínuos, passivos. O orgasmo.

Esquecer

As moedas pesavam em seu bolso, mas insistiu no caminhar calmo e desestimulante. Os olhos eram todos nela, a mente insistia em esquecer tudo que se passara algumas poucas horas atrás. Doía pensar na infidelidade que a acometera como uma dor de dente quando apossa da boca cariada. As lágrimas insistiam em cair, os nós dos dedos ensanguentados de raiva, dor, insanidade. Gritou tanto que os músculos da garganta pareciam ter saído do lugar e começar uma luta pessoal contra as paredes que as prendiam àquele corpo. Jogou o cigarro no ralo, não servia de muito naquele momento. Ao invés, pegou a belladonna e passou nos olhos quantidade suficiente para ficar cega por algum momento indefinido e esquecer do que viu, do que sentiu de toda a dor que causava dores musculares além da conta. Tomou um comprimido para a dor que a pertubava e entrou em transe para esquecer de si, do mundo, dele. Esquecer. Esquecer. Esquecer. Paula Cristina.

Minha alma de artista

De tudo que vivi, de tudo que passei, a coisa mais linda que fica em mim é a minha própria alma. Essa alma que vive, que reza, sorri e chora tem sua própria forma de se dizer, de se fazer reconhecida no exterior da minha pessoa e essa forma é a arte. A música cantada, dançada, tocada, os textos interpretados ou escritos, todos com o mais profundo sentimento. É assim que a alma se expressa e quando outra alma sente e se emociona com a expressão da outra, é nessa hora que o mundo se torna ínfimo, bonito, transparente. Tudo parece ficar claro, calmo, óbvio: o mundo é lindo, o mundo é mágico. Vou e volto e nunca sei para onde irei daqui a algum tempo. Tenho tanta coisa para fazer, tanta coisa para conhecer que me perco em vontades e me esqueço da vontade da minha alma, esqueço que a vontade de minha alma é vontade do meu eu. Mas então, de alguma forma, o mundo se encarrega de me levar de volta àquilo que tanto amo, àquilo que às vezes me esqueço ser essencial em minha vida. As sapatilhas,

Palavras

É tão complicado a expressão do mundo em palavras. Elas são tão pequenas, tão insignificantes diante do sentimento que as contém e das diversas surpresas que o mundo pode nos oferecer. O que é uma palavra, senão a tentativa de expressão de algo muito maior, muito mais complexo e com a visão de um lado só. As pessoas esperam da palavra uma verdade absoluta, mas a palavra pertence a quem as pronunciou e essa pessoa não tem o conhecimento da verdade por inteira, apenas da alienada visão de mundo que têm, que aprendeu, que conheceu. Como fazer então? Além desse "mínimo" problema, existe outro: a palavra dita versus a palavra interpretada, versus a palavra lembrada. É tudo tão além do que pensamos saber, do que pensamos conhecer. De repente tudo fica confuso com tantas verdades partidas ao meio, quantas certezas com mais de um lado e quantas luzes no túnel apagadas por uma visão distorcida, por um tampão bloqueando (dos olhos) a entrada da luz... é preciso usar as palavras para re

O seminário

Foi tudo muito calmo, tranquilo, leve e solto até aquele momento crucial. O momento que veriam o que eu sabia de tudo que eu tinha certeza que não sabia. Juro, queria sair correndo, mas de tão paralizada, tudo que consegui fazer foi respirar fundo e dar um jeito de enganar todos. Contar para eles que eu sabia um pouco daquilo que nada sabia. E as palavras foram saindo, os olhos passavam por cada linha, cada pedaço de letra que transparecia em minha frente. Todos os olhos voltados para mim (eu que não sabia nada). E a medida que as palavras saíam eu descobria que sabia um pouco daquele nada que acreditava não saber. Do mínimo que exigia que os outros soubessem, mas que eu mesmo nunca sabia. E com o decorrer do tempo me vi inteiramente envolvida com algo que nem eu sabia que existia dentro de mim: uma mente pensante que sabe um pouco (o mínimo), mas o suficiente para fazê-los compreender. O medo, a vergonha, o desconcerto se transformavam e uma calma e uma serenidade fora do normal. Cois

Sem direção

O carro virou a Quinta Avenida de alguma cidade qualquer. Não tinha noção de onde estava, só pretendia sumir daquele estado (a alguma horas atrás desligou o celular, pegou as roupas, os cds, os livros e seu caderno, checou se ainda tinha crédito suficiente no banco e pegou o carro. Sem direção que estava foi escolhendo as estradas e rodovias que pareciam mais bonitas e agradáveis). Deu em um cemitério todo iluminado, bonito de se ver. Ao lado do cemitério havia uma pequena capela, um pouco diferente das outras. Achou curioso o que viu (só podia ser o destino pregando alguma peça de mal gosto). Gravado, em cima da porta, haviam as seguintes palavras: "mate alguém em pensamento ao entrar, ore por essa pessoa aqui dentro e siga em frente ao sair". Era exatamente o que precisava fazer matá-la de uma vez. Pensou bem forte "você se foi e é passado para mim, você morreu". Manteve essas palavras em mente durante todo o percurso até a cadeira que escolheu sentar. Sentou e co

Ao léu

A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem

Uma noite.

A taça vermelha de contraste com a toalha branca. Os dedos ágeis esperando o momento oportuno para mudar de direção. A água passava levemente por seu corpo e tudo parecia diferente, afetado. Era tudo lindo, inusitado, fácil. Era fácil ficar ali, esperando, olhando, observando, absorvendo cada detalhe, cada pedaço de tempo, de momento, de paixão descontrolada que a abordava como um temporal. Vulnerável da forma mais louca, da forma mais surreal, na realidade mais obscura e sem futuro certo. Não importava, desde o sussurro saindo de seus lábios ou de seu olhar penetrante. Ele sabia quem ela era, mesmo quando ela pensava estar escondida dele. Não importava aquilo agora, nada importava além da sensação de extrema calma que a invadia. A cautela não existia por um momento, não porque havia sumido, mas porque não precisava dela. Fechou os olhos, sentiu o cheiro. Abriu os olhos, sentiu a luz. Falou, ouviu, riu, emudeceu. Era muito fácil ser ao lado dele, era muito fácil estar com ele. Paula

Eu te amo, só por hoje.

Você veio, você partiu, mas voltou. Sonhei todos os dias para esse dia voltar, mesmo que não admitisse (admitir que se ama quando não se percebe correspondido dói muito...). Virei as costas, revoltei, jurei para eu mesma que jamais voltaria a amar. Não porque não quisesse, mas porque não achava que valia a pena a dor. Passei noites a fio escondendo de mim o quanto queria um romance, o quanto queria amar e ser amada. Não sei se já o sou, mas você voltou e quebrou todo o gelo que eu tinha construído com tanto trabalho pesado, noites insones, lágrimas em vão. Você voltou e tudo que já não mais era natural se tornou de uma naturalidade ridiculamente impressionante. Acordei e me percebi em um mar de alegrias que já não mais conhecia. O mundo tinha mudado com um piscar de olhos. O sorriso insiste em aparecer no rosto, mesmo quando se tenta contê-lo. Mas isso também me traz medo. E se você me machucar de novo? Terá tudo isso valido a pena? E se você se for? Na verdade, no final das contas já

Onde está o inusitado?

Por favor, comprem uma bengala decente para o indivíduo de boné à minha frente. Alguma coisa marcante, bonita, polida, entre "não estou nem aí, mas olhem para mim, assim mesmo."Algo de exibicionista por natureza, mas que mantenha o mistério. Por favor, tragam o mistério de volta ao mundo. Existe algo de extraordinário no mistério, talvez porque as pessoas insistem em ignorá-lo por completo. Não se vê mais o interesse por coisas que o despertam, que nos deixa intrigados, interessados. O mundo está anestesiado. Onde está o mistério, a descoberta, o burlesco, o mágico, o bonito, o diferente dentro de nós? Eu quero o inusitado! Onde está o inusitado? Paula Cristina.

O jantar

Acordou, escolheu a melhor lingerie, tomou um banho, vestiu uma roupa, tomou café, fumou um cigarro. Resolveu ir ao mercado e comprar ingredientes para uma refeição deliciosa e para sobremesa, também. Ligou para o primeiro nome que veio em sua cabeça e convidou a voz do outro da linha para um jantar. Organizou tudo, deu comida para o gato, decorou a mesa, cozinhou, tomou um banho, vestiu o corselet, abriu a porta de casa e, com o copo de whisky na mão, esperou sua visita chegar. O jantar foi agradável e a conversa extremamente calorosa, Amigos fazem bem. Deitou a cabeça na almofada do sofá e adormeceu. Já passava do meio-dia. Paula Cristina.

Lugar vago

O telefone tocou e um suspiro agudo saiu das gargantas, pesando o ar a volta. doeu no peito, nos olhos, nos ouvidos e deixou muda a boca que tanto falava. Lá fora, o céu de um azul radiante contrastava com a notícia que ouvia. Aos poucos todas as lembranças foram se tornando opacas, embassadas, distorcidas e tudo mudou de um vermelho para um cinza tão claro que era quase impossível notar.O barco, antes à deriva, agora posto ao mar, navegando, distanciando daquela terra que tanto se pensou. Algum lugar além daquele alguma coisa esperava por ele. Alguma coisa que ninguém jamais soube o que era. A luz do farol se apagou, ele jamais voltaria, por escolha também dela. As cortinas foram fechadas e o jantar posto à mesa, como sempre fora. Agora com uma simples diferença, o lugar estava vago e fora tomado. Paula Cristina.

A inconstância que flui como vida no ar que respiro

Minha insconstância às vezes me prega peças de mal gosto. Falo algo que realmente penso do fundo de meu ser, mas em cinco minutos provavelmente não lembrarei e não concordarei com aquilo que pensei como mais verdadeiro e que pronunciei como se fosse imutável. A única coisa que não muda em mim com o tempo é o amor, o carinho que sinto. A forma de expressá-los pode mudar e, com certeza, vai mudar, mas o sentimento fica ali imutável, estável. O resto é passageiro, imoral, perdido no tempo e no espaço. O que fui a nove minutos atrás deixou de ser. Isso causa rebuliço e revolta naqueles que tem o espírito estável. Nunca entendi pessoas que morrem sem mudar de idéia, de vida, de mundos. Parece que nunca aprendem, que não sabem o que é ser de outra forma e isso é triste (assim EU o penso). Queria dizer a essas pessoas que sinto muito por ser tão inconstante, mas a verdade é que estaria mentindo pra elas. Adoro essa dialética que nunca me deixa parada, asfixiada, esquecendo de mim e de todas a

Fétido

Ele passou, o coração acelerou, mas nada podia fazer. Aprendeu da forma mais fétida e podre que as pessoas se deixam sofrer por amores. Não podia mais amar, porque quem ela amava era proibido. A dor foi relutante, queimou por dentro, tirou o sono, tirou alegias e os risos soltos que saíam de sua garganta todos os dias. Tudo que via eram formas embaçadas por trás das lágrimas que teimavam em cair. Ninguém sabia a dor que era pra ela causar sofrimento, especialmente sem nunca ter pretendido e jamais pensado que aquilo poderia acontecer. A noite adentrava deixando tudo doído fétido, perdido. Fétido. Essa era a descrição para a casa nesse momento. Os zumbis entravam e faziam algazarra com a carne podre que ficou espalhada depois da morte bruta que sucedeu a sua dor. A sua dor era incompreendida pela única pessoa que precisava compreender. Agora entendia o que a poção da horcrux conseguia causar nas pessoas. Dor, fétido, podre, morte, zumbi. Paula Cristina.

Perdera-se em si mesma

Quando percebeu a realidade pesada que atingiu seu mundo particular, o ar fugiu dos pulmões, não sentia nada, não podia dizer nada. Viu o mundo desabar diante de seus olhos com tanta dor, com tanto peso de consciência. Será que era tão cruel assim? Será que seria percebida daquela forma também? Viu seus piores temores surgirem de seu mais íntimo: seria um monstro disfarçado de donzela? Um tubarão disfarçado de sereia? Doía tanto pensar assim. Não queria magoar ninguém. Principalmente ela. Era como se tivesse escolhido colocar uma barreira dura, pesada, impossível de tirar. Nunca seria a mesma coisa. Tornara-se imoral no pior sentido. Sabia que sempre fora imoral, mas dessa vez passara dos limites, inclusive para si. Como doía pensar que era a pessoa mais sem coração que poderia existir. Com doía pensar que causava tantos estragos quanto um tornado nº4. Era uma aberração dos próprios princípios, porque viveu tendo princípios, mas sempre quebrando-os em pedaços simples, pequenos, irrelev

amor

Você acorda um dia e decsobre que tudo que sempre quis não foi exatamente do jeito que esperava, mas acabou se mostrando melhor do que acreditava poder ser. Olha ao redor e descobre o mar de pessoas e mundos e fantasias que se tornaram realidade em seu mundinho pequeno, naquele que você acreditava que cabia só você. Descobre sabores novos, sensações novas e tudo passa a ser lindo. Percebe que as pessoas que mais te fazem bem sempre fizeram parte de seu mundinho particular, você só não deixava que elas se apromixassem tanto por ter acreditado nas pessoas erradas. É então nessa hora que o sorriso cresce e todo o mundo vê que você é a pessoa mais feliz e sortuda da face da terra, porque você encontrou o que todo mundo procura: amor. Mas você só encontrou porque deixou aqueles pensamentos pessimistas de lado e passou a ver o lado maravilhoso de cada ser humano. Não que você goste de todas as pessoas e não se irrita com algumas, mas isso se torna raridade, porque alguma coisa de bom todo mu

Homenagem a Alaor

"A neblina amarela que roça as espáduas na vidraça, A fumaça amarela que na vidraça o focinho esfrega E cuja língua resvala nas esquinas do crepúsculo, Pousou sobre as poças aninhadas na sarjeta, Deixou cair sobre seu dorso a fuligem das chaminés, Deslizou furtiva no terraço, alçou um repentino salto, E ao perceber que era uma tenra noite de outubro, Enrodilhou-se ao redor da casa e adormeceu." -T.S. Eliot- Você se foi, assim, como num piscar de olhos. Esperou outubro, sabe-se lá porque. Seus olhos ainda pairam por todos os lugares que um dia visitou trazendo amor, paz, tranquilidade. O seu sorriso antes tão alegre e bonito não fará parte mais do futuro tão pensado ao seu lado. Você se foi e tudo que posso fazer é derramar lágrimas de conformidade e seguir em frente. Você que foi tantas vezes forte e tantas vezes guerreiro, deixou um ninho de amor ainda por ser descoberto. E o carinho que você plantou cresceu como as tantas plantas que você cultivou em nossos jardins. Não há

O abraço

Estava ali, alheia ao mundo, sem saber por onde andar. De repente um abraço, o abraço mais lindo do mundo. Daqueles abraços espontâneos que dá vontade de retribuir e não soltar nunca. Mas o material seguro ao peito não deixou que o abraço concluísse com sucesso o seu objetivo. Que vontade daquele abraço: da sinceridade estampada no ato, do carinho, da leveza. Foi lindo, mas como tudo de mais bonito no mundo, durou apenas tempo suficiente para marcar, para mudar, revolucionar. Aquele era o abraço mais bonito do mundo! Paula Cristina.

Uma noite perfeita

Não sabe se é dom ou maldição esse ir e vir consciente. Sabe que no fundo se importa, mas então, quando vê a dor que pode arrebatá-la e amordaçá-la, simplesmente vira na próxima esquina, se esquivando de tal forma que nem Freud explicaria. O controle se torna extremo e a tristeza de não tê-lo simplesmente paira em um "meio plano" considerado inexistente. Tudo muda e a paz instaura. A força volta de forma brutal e quando vê já não é mais a vítima, mas o caçador e tudo passa a não ter tanta importância quanto se pensava ter. Talvez a linha para a sociopatia esteja a milímetros, talvez seja apenas uma hipocondria aguda. Não sabe ao certo. As luzes começam a acender na rua. A música tocando suave um blues inconfundível, o barulho do msn, as teclas e o mouse usados compulsivamente. O livro de cabeceira em cima da mesa. O cigarro posto no cinzeiro com cuidado esperando ser reutilizado enquanto aceso. A cerveja também posta de forma a ser alcançada, o porta copo embaixo já molhado p

Preciso

Preciso de uns dias cheios, onde não pense em nada além daquilo que preciso fazer. Preciso de uns dias sem internet, sem passadas que me levam a sua porta. Preciso de algo que me tire os pensamentos e que não me deixe louca por completo. Quem sabe um passeio pela praça e a leitura de diversificados livros ao mesmo tempo. Quem sabe um pouco de açaí misturado com um bom banho de cachoeira regados a momentos de dança e descontração. Um pouco de música ao fundo e uma boa garrafa de rum. Talvez alguma coisa mude até em mim e tudo passe. Apenas passe. Paula Cristina.

A um passo

Era tudo tão simples, eu não gostava, eles não sabiam, eu seguia em frente, de cabeça erguida, mudando tudo à minha volta. Mantinha minha vida tão calma quanto possível e tão simples quanto sempre foi. Nada além, nada diferente. A insônia deixava de existir depois de um tempo, porque ela era causada pelo não conhecimento do que poderia ser e eu nunca achava que seria algo. Era apenas uma coisa que mudaria, que transformaria, mas que não serviria muito para o que quer que fosse. Mas então a insônia e os sonhos pertubados voltaram juntamente com um sorriso que só sai do rosto quando vêm as lágrimas de medo do desconhecido. Eu poderia me apaixonar loucamente e estou a um passo de fazê-lo. Estou a um passo de te olhar nos olhos e sentir sua mão segurando a minha. Estou a um passo de sentir seu cheiro de longe e a um passo de te ver em todas as esquinas. Estou a um passo de ser a pessoa mais romântica do mundo, a um passo de ter alguém e isso é, no mínimo, diferente. Estou a um passo de voc

Loucura

Confesso escandalosamente que perdi a noção quando as botas tocaram o carpete macio. Meus pés soltos no ar pediam um chão em que pudessem fincar os dedos para confirmação de uma terra firme, segura. Não acharam nada além da nítida falta de juízo que se apoderava de minhas idéias insanas de liberdade extrema. E que liberdade! Depois de um tempo o corpo se acostuma com a loucura e, a procura por estabilidade é apenas durante uns míseros segundos em que se confirma que a certeza já era, sumiu. Os braços abertos, a brisa percorrendo todo o corpo, a adrenalina subindo às alturas. Como era fácil voar! De braços dados, esperando que qualquer coisa fizesse cair. E quando se pensou que não, o olhar estava lá e soube que sua liberdade era linda. A mais linda e pura de todas. Deitou a cabeça nas nuvens. Podia sonhar, pelo menos, aquele dia. As botas permaneciam ali, no carpete, agora já úmido. Esperaram por uma eternidade, quase se desmanchando em desespero de serem calçadas, mas não foram calça

Um cara

Você veio e se foi e eu fiquei esperando parada, ouvindo a música ao longe e fingindo ver algo além dos olhos. Não via nada. Tudo que sabia era o beijo que você me deu. Calmo, sedutor, forte. De repente senti sua mão esvaziando a minha e quando me dei conta estava sozinha. A diferença é que eu não queria estar sozinha, queria estar contínua, queria estar junto. Marie Anne.

Ser diferente

Ser diferente me permite estar longe quando preciso e perto quando necessito. Ser diferente, me permite sorrir com as loucuras alheias e amar as falhas acometidas e até querer algo além de mim para dar sombra a um necessitado. Ser diferente me permite impressionar aqueles que já não se impressionam mais e amar aqueles que não se amam. Ser diferente me permite ser louca, feliz, corriqueira, perdida, santa, quieta, querida, álcoolatra, drogada passível. Ser diferente me permite ser livre, mesmo impossibilitada de alguma forma. Ser diferente me permite amar da forma mais estranha e mais linda que posso e compreender pessoas, simplesmente porque são o completo oposto de mim e ainda conseguir ver um resquício de igualdade. Ser diferente me permite ser eclética, sem opinião e com opinião demais, tudo ao mesmo tempo. Ser diferente me permite ver e experenciar o mundo do modo como eu o vejo, o amo e o sinto. Ser diferente, simplesmente, por amar ser diferente. Paula Cristina.

Ela ainda não se recorda

O celular tocou pausadamente, enquanto ela esperava ser atendida. não foi atendida, pegou a bolsa, batendo a porta às suas costas. A noite estava agradável. Os carros passavam alheios a ela. Perdida em seus próprios pensamentos parou diante de uma praça linda, foi até o barzinho da esqina, comprou uma cerveja e sentou em um banco da praça. Ele nunca retornou e ela esqueceu da ligação, esqueceu dele. Passados dois anos, ela ainda não se recorda. A paz se instaurara sem que percebesse. A praça ainda está lá e todos os dias, ela também, com a cerveja e o cigarro na mão. Paula Cristina.

Os livros me ensinaram

Os livros me tiraram da cabeça e puseram no coração. Os livros me ensinaram a sorrir de novo e a viver de novo. Os livros me tiraram a solidão e colocaram saudades em meu coração. Os livros me ensinaram a esquecê-los de vez enquando para que eu me lembrasse de mim sempre. Os livros me ensinaram que apesar do medo, não adianta eu me esconder: eu estou ali, nua e crua, esperando ser amada e compreendida por ninguém mais que eu mesma. Os livros me ensinaram tanto, mas não me ensinaram a acostumar com as tristezas. Para eles, se eu me acostumar com as dores, esquecerei a sensação de sentir e o mais bonito da vida é sentir. Sentir o frescor da brisa que balança a copa da árvore, sentir o gosto da sua bebida favorita, sentir o toque de alguém especial, sentir o roçar das folhas em contato com o dedo, sentir a água percorrendo o corpo. Sentir, apenas sentir. Isso, os livros me ensinaram sublimemente e eu nunca esqueci. Paula Cristina.

Que culpa eu tenho?

Que culpa eu tenho se me apaixonei por um canário? Que culpa eu tenho se não admito para ninguém? Que culpa eu tenho se o mundo espera uma coisa e eu só vivo outra? Que culpa eu tenho de não confiar se o mundo me ensina a fazê-lo? Que culpa eu tenho de viver confusa, assustada e completamente amordaçada? Que culpa eu tenho pelas culpas que carrego? Odeio me sentir culpada e, por ironia, sou culpada o dia inteiro, o tempo todo. Que culpa eu tenho?

O olhar

Há quanto tempo não existiam olhares como aquele. Ele olhou e o corpo dela arrepiou todo com um olhar. Era tão penetrante que não conseguia mantê-lo, por mais que quisesse. Lindo, sensual, atraente, engraçado, divertido, inteligente e... que olhar! Olhares nunca faltaram, mas este era diferente, era especial. Pela primeira vez, em anos, ela queria corresponder um olhar. Como foi divertido e emocionante, como a tempos não era. E foi assim o dia inteiro, a noite inteira, a manhã inteira. E a vontade de reencontrar aquele olhar? A vontade de se deixar levar era enorme. O obstáculo lançado e a perguntava não se calava: será que foi tudo imaginação, será que só ela queria? Talvez nunca saiba, talvez nunca mais o encontre. A idéia é torcer para que tudo dê certo, mesmo que nada indique que dará. Paula Cristina.

A noite

O cigarro ardia, pedindo ser consumido por mãos ageis, lábios fortes. Ela arriscava uma olhada ao isqueiro por tempo suficiente e esmagador. A água esperando para ser tomada, o remédio em cima da pia. Todos esperando a decisão final. Levou a água a boca, jogou o remédio no ralo da pia. Consumiu as 510ml de água, pegou o cigarro, aproveitou e levou o maço consigo, pegou o isqueiro, sentou na varanda. A lua estava linda, dourada, esperando para ser adorada. Os pensamentos passavam calmamente por sua cabeça. Nada triste, desesperado, nada tirava a paz, nada a arrancava daquele estado. Lembrou das dores, mas já não doíam, eram apenas lembranças. Cigarro, boca, cigarro, boca, lua. Cigarro, boca, cigarro, boca, sorriso, lua. E foi assim a noite inteira. Noturna, sempre fora noturna. Hoje não importava, hoje era apenas uma qualidade, um modo de vida. O sol ia surgindo no horizonte, levantou e com um sorriso em seu rosto pronunciou "Bom dia mundo". O café sairia daqui a alguns minuto

Uma nova cicatriz

Acordou com uma vontade súbita de se despir emocionalmente. Nunca fizera isso antes. Envergonhada comprou um picolé para ver se passava aquela vontade louca, estúpida, contida como sempre. Não passou. Caminhou pelas ruas da cidade, passou por praças, tirou fotos, observou pessoas, mas nada tirava aquela vontade insana da cabeça. Ouviu música, mexeu no computador, assistiu tevê e, ainda assim, a maldita da vontade estava lá. Aquele desejo incontrolável tomava cada vez mais posse do que era seu, esquecendo que existem pessoas e que pessoas não se importam com nada que seja muito emocional, a não ser que elas o sejam também. Jogou baralho, bebeu, fumou, passeou com os cachorros. Dirigiu, ensurdeceu, esqueceu o mundo, leu um livro, estudou. A vontade continuava forte, apertada no peito como um balão prestes a explodir. Procurou seu amante de sempre, quem sabe ele não tirava aquele desejo dentro do peito? Vontade e desejo é falta de coisas interessantes para fazer, quem sabe não fez nada de

Dez dias

Dez dias. Sessenta e duas vidas entrelaçadas. Mal sabiam o que as esperavam. Cansasso, exaustão, cumplicidade, carinho, amizade, cuidado. Apenas palavras que não descrevem com exatidão o sentimento completo instaurado naquele grupo. O olhar vago e assustado de alguns se tornou forte e poderoso com o tempo, o olhar provocantes de uns inspirou outros. Todos se cuidaram pelos dias afora. As lágrimas caindo e molhando rostos, borrando-os, deixando-os um pouco difrente do que deveriam mostrar. Doía porque sabiam que tinham mudado, crescido, se sustentado ali. Por favor, tragam tudo de volta! O cansasso passa, as idéias fluem e tenho que praticar o desapego mais uma vez, como em tantas outras vezes. Mas a verdade é que praticar o desapego às vezes dói, porque é exatamente aquilo que sempre quis e nunca encontrou e de repente evapora das mãos como se nada existisse, a não ser a lembrança do que foi. E volta-se então, para aquela vida de sempre pacata, sombria, esperando ser algo que nunca foi

Na vida, tudo depende

Entraram. Eram tantos: tantas histórias, tantas vidas, tantas decepções, tantos amores, tantos agrados. Olharam-se, cumprimentaram-se. Um por um foram ocupando espaços, bons ou ruins, ainda eram espaços. Conversaram, riram, falaram de si. Algumas amizades se fortaleceram, outras nem tanto ficaram para trás com uma vontade de quero mais reprimida que deixaria marcas, feridas e indiferenças por toda a vida. Tudo depende de um olhar, tudo depende de um sorriso, tudo depende de uma palavra. As circunstâncias mudaram, as pessoas mudaram, os relacionamentos mudaram. No final das contas, na vida, tudo depende das circuntâncias, de cada pessoa, do clima. Tudo depende, tudo interliga, tudo é muito complexo. Sempre tem dois lados, sempre tem, pelo menos, dois fatos. Tudo depende. Paula Cristina.

O estranho

E os olhos, os olhos.... é tudo que sei dizer daquilo que não foi dito. Fiquem cegos, por favor e me deixem dormir. A noite cala abertamente e tudo que se sabe são as horas incertas de momentos perdidos e os surtos constantes de quem vive à procura de um centro. Qual a linha de reciocínio que se deve tomar? Qual o caminho a seguir? Tudo tão incerto, tão fora do destino. Não faz mal, destino é para os fracos de espírito que não sabem fazer de suas atitudes momentos perdidos. Seja bem vindo, o jardim é logo ali atrás. Não, não quero que entres, mas sinto que não tenho escolha. A piscina vazia, o copo na mão. Quem é você, estranho que não me deixa dormir? Que não me deixa passar e simplesmente ouvir a música que não vou lembrar ter escutado? Quem é você para entrar na minha casa e sujar minhas cortinas? Vá embora, não te quero aqui. A porta bate e eu vou dormir. Boa noite. Paula Cristina

O problema do amor

O problema do amor é que você entra pra ganhar ou perder e nunca sabe as chances que tem realmente. É como jogar na loteria, ou aplicar na bolsa de valores, é uma montanha russa esquisita. Primeiro porque você tem que se acostumar com uma pessoa se enfiando na sua vida; segundo porque você tem que se enfiar na vida de uma outra pessoa; terceiro porque existe expectativas dos dois lados e nunca são realistas; quarto porque se você se machucar vai ser MUITO e vai doer muito e se você se separar da pessoa, uma parte sua vai com ela. É uma responsabilidade e uma loucura mútua e completamente arriscada . Uma vez que se ama, se ama para sempre. Aquela parte sua vai embora com a outra pessoa. Já não é só uma parte, mas uma comunhão de partes e, a não ser que se esteja realmente certa da imortalidade, porque tentar se estraçalhar? Mas porque, mesmo assim, procurar amor? Amor não se procura, se acha. Mas e se não for amor? E se for algo menos ou algo mais? Existe algo mais? Se existe, digo que

A voz no telefone

O telefone tocou uma, duas, três vezes e do outro lado uma voz diferente, mas conhecida atendeu. Estava tão perdida em pensamentos e barulhos externos e internos que não conseguia raciocinar de quem era a voz. "Quer falar com quem?" - perguntou. Responde o nome da amiga. "Ela não está aqui agora, quem é?". "Mary Anne." a voz responde: "Mary Anne? Quando ela voltar, aviso que você ligou. É o Thomas quem está falando." Ela responde "Quem?", ele: "Thomas". Ficou sem reação. Ele sabia que era ela, tinha certeza agora. A pergunta foi mais uma forma para dizer quem falava. O coração bateu acelerado. Será que era ele mesmo? Existem tantos Thomas no mundo. Mas não, devia ser ele! Só podia ser ele! Desligou o telefone, ainda sem reação. O sorriso se alargou na face. Que saudade. Que saudade. Paula Cristina.

Talvez

E a decepção caiu, mais uma vez, como uma luva. A sinceridade que se esperava se tornou implicantemente traiçoeira. E a vontade é de matar quem quer que seja. Tudo bem que a sinceridade sempre foi o que mais fez, mas às vezes se escorrega, mas dessa vez foi tudo mil falsidades, tudo mil perdições, tudo ridiculamente falseado. Será que algum dia ela soube do acontecimento, será que algum dia ela soube que o acontecimento fez tudo doer. Será que ela sabe do arrependimento? Talvez enquanto se acha que ela foi a falsa, na verdade ela se sente a vítima. É, talvez. Paula Cristina.

A vida é uma busca da beleza e a arte acaba com a solidão.... - trecho um pouco modificado de Marlena De Blasi

Correu até não poder mais, até as pernas arderem. Tomou um banho, escreveu mais um texto revelador, cheio de vontade de viver, de ser real, deitou na cama e dormiu. Acordou na mesma posição, calmamente levantou, lavou o rosto, escovou os dentes, tomou café, escovou os dentes de novo. Vestiu uma roupa, a primeira que viu no guarda roupas, calçou o tênis, passou perfume, pegou um brinco, uma pulseira, um colar, um anel. No carro a música a animava , a medalinha em sua bolsa ficou aparente e ela então se lembrou de como costumava ficar e percebeu que mesmo não sendo a tempos atrás, parecia que era. Sorriu e deixou a medalinha ali, à vista. A medalinha já não era uma coisa que a lembrava da guerra que travava todos os dias consigo, era algo que a lembrava de como foi um dia difícil chegar ali e como agora ela estava bem. O esforço valeu, as lágrimas serviram de crescimento e o sorriso era tudo que tinha e que agora ocupava o lugar da dor que antes reinava. Ao seu lado, hahaiah sorria um so

Sinto muito, meu amor.

Se tenho algo a dizer? Tenho muito a dizer, mais do que imagina. Se te amo, te amo demais. Se te odeio, odeio de menos. Não nasci para provocar dores, nasci para amar, cuidar. Existem pessoas que não querem esse cuidado e disso, nada posso fazer. Se me importo, é porque você merece. Se eu parto, é porque a dor que você me aflinge é insuportável. Não sei se te amo, se gosto ou simplesmente se me acostumei a dizer que te amo, que te gosto. Isso não vem ao caso, o que se torna discutível aqui é justamente o fato de permanecermos como se nada tivesse mudado. De onde vem essa necessidade louca que não nos deixa ir embora, nem permanecer? Preciso de paz, de tranquilidade, de auto-satisfação e a sua luxúria me deixa em pedaços, em frangalhos, mesmo que eu esteja bem aparentemente. Se me dou, me dou por inteira e não posso te dar cerejas, você não aceitou os lírios, apesar da minha insistência. Você diz que sente minha falta, mas eu não sei o que isso quer dizer. Se tantas vezes tentei dar cer

"Na vida de cada um de nós... há um lugar, remoto e ilhado, escolhido para remorso interminável ou para a felicidade secreta." Sara Orne Jewett

Ah, como o homem é cruel às vezes. Com sua vontade de manter, estraçalha corações, esquece que existe um ser ali, do outro lado do espelho se entregando, se retorcendo. Como torço para que o ser do outro lado do espelho saiba voltar a si. Nas horas de desespero, oro que o ser saiba chegar ao seu "lugar feliz". Será que ele tem? Será que não? Torço que sim, oro que sim, rogo que sim. É desse lugar que todos os seres precisam, principalmente em um mundo tão incrivelmente conturbado. De um lugar em que se possa voltar para relaxar a tensão e distribuir calmaria. Você conhece o seu? Já visitou o seu? É uma casa no lago? Ou uma praia, quem sabe? Uma fazenda, com bois e tudo? Ou a grande cidade? É um amor à noite? Ou uma amiga que acolhe? Pode ser um livro também, ou um jardim de rosas. Qual é o seu lugar? Você o visita mentalmente? Lembra dos cheiros que ele evoca ou da brisa leve? Encontre o seu lugar e não o deixe desmoronar, é para ele que a gente volta, é nele que a gente viv

Às vezes é necessário cavar.

Me pedem que me explique, que eu dê justificativas confortáveis para um porque me saí mal, porque não sou uma boa aluna, ou até sou, mas porque não me saí bem nisso ou naquilo outro. Pedem que minhas justificativas cheguem ao professor, porque assim ele vai compreender. Mas essa não é a questão, nunca foi. Sou mais do que meras explicações e isso me traz em evidência. A partir do momento que me explico, sou mais cobrada ainda, tenho que correr atrás de um prejuízo e ainda demonstrar que estou correndo para dizer "viu, sou aplicada, era só uma fase...". Não, não e não! Prefiro assumir consequências de dores, de problemas. Já basta minha culpa e ainda devo carregar o peso das expectativas de outrem? Não, não e não. Tudo na vida tem explicação, mas o mundo não pára para que consertemos as coisas, para que reorganizemos as coisas. Um furacão passa, destrói casas e acabou! Pode-se construir outra, mas não tem ninguém para passar a mão e dizer "vem cá, minha casa é muito linda

Tem dias....

Tem dias que simplesmente não se tem nada para dizer e é justamente aquele dia em que mais se quer falar. Tem dias que a pulga acorda atrás da orelha e que se veste a blusa ao contrário. Tem dias que tudo sai de linha e é justamente nesses dias que se é mais do que pensaria que podia ser. Tem dias que se acordou com o pé esquerdo, mas tudo parece lindo, tem dias que tudo deu certo, mas parece que está tudo errado. Tem aqueles dias ainda que se vira bicho, tem dias que se vira água. Tem dias, tem dias, tem dias. Tem dias como hoje, que não se tem nada para escrever, mas a vontade de fazer um "super-big" texto é enorme. Tem dias que as coisas não fluem e tem dias que fluem até demais. Tem dias......... t e m d i a s que tudo parece estranho, meio ambíguo, bizarro escaldante. Tem dias que as idéias parecem ridículas e perfeitas, ao mesmo tempo e cabe a alguém dizer o que achou delas. Tem dias que as cores estão mais cores e o céu está mais perto. Tem dias que o anel vira aliança

Lírio

A rosa vermelha vivia em um jardim só de rosas. O lírio apaixonou-se pela rosa e tentava sempre arrancá-la do jardim. A rosa, não aceitava, tinha criado raízes, aquele era seu jardim, seu lar. O lírio chorava noites e noites desesperado. A rosa, quando se sentia sozinha chamava o lírio para um jantar. O lírio, que não sentia que tinha casa ia, queria uma casa com a rosa. A rosa insistia que ficassem a se ver apenas nas épocas que sentia solitária, eles não dariam certo juntos, eram muito diferentes. O lírio insistia, chorava, pedia, sofria sozinho. A rosa não percebia a insistência, pois o lírio sofria sozinho, não deixava que vissem sua alma, sua dor. A rosa vermelha então se apaixonou por uma rosa branca e o lírio ficou solitário, doente, machucado, perdido. A rosa não soube disso. Em um dia nublado o lírio viu a rosa caída no chão, despedaçada. A rosa estava morta. O lírio em desespero guardou suas pétalas vermelhas e assim seguiu sua vida, sempre de luto, pois a rosa morrera. Passo

Sussurros de Hahahiah

Cansada de mecher no livro de receitas deitou e tentou fechar a mente. Ultimamente sentia-se exausta. Levantou, tomou um banho, se arrumou e saiu. Mal chegara na festa ele apareceu. Aquele ar de galã sempre o rondando. Como odiava aquilo. Ele sabia deixá-la completamente sem ar, sem chão. Respirou fundo para que ninguém notasse as lágrimas que brigavam com seu corpo para surgir sob os olhos e manchar a maquiagem. Cumprimentou-o como se fosse um qualquer, mesmo querendo gritar a todos os pulmões "PORQUE NÃO EU?". A música ensurdecedora parecia cantiga de ninar de tanto caos empreguinado em si. Dirigiu-se ao bar, preparou um coquetel, virou à esquerda a um canto para encontrar um lugar onde pudesse sentar sozinha, com a música tocando levemente de longe, onde as sombras esconderiam a dor transparecida em suas mãos trêmulas. Achou o lugar perfeito: a beira de uma piscina, sob um lua de sangue. Alguma coisa estava por acontecer da qual ela teria que se afastar, mas o que? Ficou a

Intimidade

Intimidade é difícil. Durante dias me pego neste assunto e hoje, por razões reais, mas qualquer resolvi deixar que minha vontade de escrever sobre isto sobressaísse. Acredito que existe diferentes formas de intimidade: a atraente, a reticente e a arruaceira. A atraente dá a liberdade, mas reconhecendo limites e não fica por muito tempo ou ela se tranforma em reticente ou acaba. É típica de pessoas que gostam de estar sozinhos. A reticente, que vive em expansão e crescimento, mas nunca chega ao ápice da intimidade, pode se transformar em arruaceira. Típica daquelas pessoas que odeiam ficar sozinhas, mas também odeiam que invadam seu espaço pessoal sem permissão. E a arruaceira, essa pode fazer um estardalhaço emocional, porque ela é típica de pessoas que não percebem a individualidade do outro, é doentia. Eu me encaixo na atraente. Mas porque estou falando disso? Acho que quando se começa a fazer terapia a gente aprende a falar de si e, assim, aprende também, a pensar em si, a refletir.

O dia secreto

A sala escura, fria e silenciosa. Quase não se percebia a menina brincando de quebra-cabeças em um canto. "O que faz aqui?" - perguntou a mulher contendo o susto. "Estava esperando a senhora. Queria saber se sou louca". A mulher olhou-a nos olhos da garota e percebeu a dificuldade que ela tinha em conter as lágrimas que se formavam sobre seus olhos. "Claro que não" - respondeu a mulher se perguntando o que levara a garota a fazer uma pergunta daquelas. A menina, como que percebendo a indagação da mulher, responde as pessoas diziam que ela é louca porque escreve histórias que passam detalhadamente em sua cabeça e quase se tornam reais de tão insistentes que são. A mulher sorriu, "você não é louca, é artista. Loucura seria se deixasse de escrever, aí quem sabe as histórias realmente seriam reais e talvez eles se envergonhariam de não ter aceitado um simples texto". A garota, mais calma agora, com as lágrimas enxutas, levantou e já se dirigia à por

Reflexões

Dear Emma, fazendo uma reflexão sobre tudo em minha vida, fiquei assim, perdida no tempo, no espaço, em minha própria mente, brincando de cão e gato com meus sentimentos e minhas razões. Fiquei presa por demais em partes mínimas da vida como a sociedade e o que eu deveria mudar para me encaixar, mas isso me matou mais do que quando eu era apenas a excêntrica sem conserto. Entrei em coma. Mas as coisas não funcionam assim, de modo algum. Para que sejamos felizes não precisamos achar alguém para ficar do nosso lado, podemos amar ou admirar o que quisermos, mas isso não necessariamente implica em relacionamentos; podemos querer muito um livro ou um cd ou até mesmo aquela roupa maravilhosa da vitrine, mas isso não significa que precisamos disso; podemos gostar de fazer várias coisas, mas nem sempre poderemos fazê-las. O que nos faz ficar bem é algo superior a isso, é saber utilizar nossa cultura, nossa tradição e modelá-las a nosso bem uso. Aprendi isso com um filme e concordei instantanea

A casa

Uma fase cansada, pesada. É como devia ser, mas não no interior. As traças corroiam as paredes, cortinas, móveis, a sala por completo mofada. Quanto tempo fazia que não voltava ali? Sua antiga casa, seu antigo esconderijo pedindo socorro prestes a roir... Não havia nada que se pudesse fazer a não ser salvar o que podia ser salvo, expulsar as traças, tirar o mofo. Mas nunca voltaria a ser como era. A visão da sala doía o peito, o quarto então, nem queria entrar. A dor seria grande demais. Quem sabe amanhã ou depois? Mas e se tudo ficasse destruído pelos agentes do tempo? Teria que entrar. Respirou fundo e subiu as escadas com medo de morrer antes mesmo de pisar o último degrau de escada. Paula Cristina.

O loiro sentado a sua frente na mesa de lanchonete

"Paixão atrai paixão e te penetra quando você dá espaço. Pense em uma atividade que te faz feliz... então esqueça do amor e vá fazê-la. Quando você se apaixona pela vida, a vida te manda um amor!" O que mais gosta de fazer: cantar, dançar, escrever, ler e se declarar culpada, amante, amiga, surtada. É se pôr no mundo que a faz feliz. Foi aí que começou a divagar em como tem amigos preciosos! Um em particular a fez sentar aquele dia e passar horas lembrando, apenas lembrando e isso a fez sorrir. BRASIL - 2004 Não, eu não quero ir! - disse ela em desespero. - Ele espera que eu faça alguma coisa, o beije ou coisa parecida e eu definitivamente não farei isso! - olhou de cara feia para a amiga, não acreditava no que estava acontecendo. Não vai ser tão mal assim - disse a amiga - eu vou estar lá, vou levar um amigo, caso aconteça de eu ficar de vela.... Você não vai ficar de vela. - disse ela realmente exasperada agora. Mas mal acabara a frase a camapinha tocou - Não tem mais volta

A sombra e a medalinha

A face mais escura presa dentro do espelho esperando ser solta com um leve toque. Não aguentava mais tudo aquilo. Necessitava sair, se entorpecer, se beliscar, mentir. A cabeça latejando com as ridículas tentativas do mundo de ser igual. Quando é que vão se tocar de que não existe igual? Lê um livro, assiste um filme, anda para lá e para cá dentro de casa. Tenta vomitar só para ter o prazer de sentir a garganta arder por um breve momento logo após o vômito sair. Não consegue. Não tem nada para vomitar. Raspa as unhas no peito, senti-las arranhando. Fecha os olhos, acalma a mente. Que saudade da meditação. Infelizmente ela não tem tido efeito ultimamente. Tem novidades inesperadas e por incrível que pareça não sente nada. Pensava que sentiria um ciúme crucidante correndo pelas veias, mas percebe que não faz diferença alguma e mais uma vez constata que nunca se apaixonou e acha graça disso. Não se assusta como tantas outras vezes de ter que ficar sozinha. A dor que sente vai passando, as

Crise do dia

De repente tudo saiu de foco e ser Alice era tudo que se queria por um momento. Se não tivesse jeito poderia ser Pollyana ou Luna ou uma outra qualquer, mas ser naquele momento si mesma não estava adiantando muito. Irritou-se ao ver pessoas conformadas olhando-a como se fosse outro dia mais, um dia sem nada fora do comum. Aquilo não era ela. Costumava sentar no meio fio e passar horas e horas lendo, gostava de ficar a vaguear por aí como um cachorrinho sem dono se esbaldando com açaí ou picolé de limão. Chegava a cojitar a idéia de fugir de casa, se tornar viajante e trabalhar o necessário para comer e ter um agasalho na mão quando precisasse. Nunca o fez, pois como já dizia Kafka: é mais fácil ir por caminhos que não se quer, assim não existe frustração de não se ter chegado longe. A questão é que de tanto se sentir presa passou a desenvolver hábitos desagradáveis para poder fugir da dor aflingida por si mesma. Tal qual dizia um poema: que eu não me desvie do caminho e se, por acaso o

O preço do orgulho

O moço da mácara a encarou por trás das cortinas chamiscadas de inverno. Ela não sabia o que era dela e o que era dele. Esqueceu-se de si por um segundo, tempo suficiente para enlouquecer o pouco que restava de sua sanidade. O que fazer a partir dali só ela sabia e, na verdade, não fazia idéia. As cartas escritas no passado a deixavam segura: nunca as mandaria, mas tiraria o peso de anos empurrando seus ombros para baixo, amordaçando o ânimo que deveria ter e já não tinha. O tempo presente era vivido como um casual outrora. Ele não percebia as máscaras que ela, também, carregava consigo. Traiçoeira por si só, jamais deixava transparecer sua dor porque a dele devia ser mais dolorosa que a sua, mesmo que na aparência. Como se passassem os anos, cansada daquela máscara foi para seu quarto, tirou-a e deixou-a junto a tantas outras tiradas do bolso e repostas quando saísse. Deitou a cabeça no travesseiro e dormiu. Ele entrou no quarto e se apaixonou pelo rosto seu sem cor, pálido e frio, se

Dias de paz

O ar vagamente saía pelos pulmões como se fosse explodir. Não queria ficar ali, mas ficou. Sempre fica. Os dias passaram e a falta de ar misturada com o excesso deste querendo estourar os pulmões na tentativa de sair foi passando. As leituras voltaram a seu pique mais remotamente obsessivo, os treinos de dança encheram as tardes e as enfeitou de delícias gasosas e cerveja amanteigada. Tudo voltou a calmaria rotineira e tão amada. Os olhos brilhavam de excitação a medida que as horas passavam. Não vê a hora de sair pelo mundo, desbravando. Não que serão dias ensolarados, na maior parte nublados, mas não faz mal: serão seus, só seus. Seus sonhos, seus dias, suas escolhas. Ficou ali, na livraria da esquina, tentando se decidir qual livro levar. Acaba por levar os dois. Maravilhosamente intrigantes e chamativos para ficarem esperando em uma prateleira por um próximo cliente interessado. Coloca-os na cabeceira. Lê um, lê outro, lê um, lê outro. Até que as forças se esgotam, as páginas do li

Um tipo de amor.

A mesa posta, a conversa em dia, sorrisos e confissões. A noite que poderia ser rotineira e "enfurnante" de repente se torna mil maravilhas. Dá subitamente um orgulho de si, uma auto-estima cresce espontaneamente dentro do peito. A comida e a bebida descem mais redondas, mais gostosas, mais acomodadas. É assim que se sabe que amizade é isso. Vai além de relacionar-se, vai de um encontro de almas que se aceitam, se amam, se compreendem. Amizade é aquela pura parte da gente que aquece quando não tem nada para aquecer e que torna os dias suportáveis enquanto aquilo que se quer ser ainda não se desforrou e aquele amor que um dia gostaria de viver ainda não se revelou. Amizade é o acalento de saber que mesmo que não se tenha tido um amor romântico, no final da vida vai poder dizer que amou. Porque amor de amizade é um tipo único e raro de amor. Paula Cristina.

Funeral.

O véu escondendo seu rosto maquiado e borrado. O buraco no chão esperando para ser preenchido com os restos dele. Os soluços silenciosos obrigam as lágrimas a escorrerem pelo seu rosto. Os olhos ardendo, a garganta seca, a boca murmura palavras embaralhadas de tempos perdidos. Ele se foi e não há mais nada a fazer. O luto permite que se feche por alguns dias, precisa de si, de reorganizar todas as idéias e planos feitos. Mudar algumas coisas de lugar, jogar outras fora, viver para si dói muito. É mais fácil ter suas decisões tomadas quando se pensa em alguém a quem deve alguma coisa. Os abraços não acalentam, aliás não entende porque a abraçam, não quer abraços, nem palavras confortantes (elas não trazem realmente conforto). O lenço já não serve para enxugar as lágrimas de tão molhado que está. A noite chega, o cemitério fica vazio, não quer ir embora. O guarda a avisa que vai fechar e que ela tem que ir embora. Dirige, sem saber por onde está andando. Não vê nada além de suas lágrimas

Sabedoria.

Sou reservada em alguns aspectos, mas sejamos sinceros aqui: alguém já conheceu alguém que canta, dança e interpreta não querer se mostrar? Sou narcísica e não sou. Para variar uma contradição. E é o meu lado narcísico que vem lhes contar minha descoberta. Os sábios não fantasiam. Esteve sempre ali, na minha frente, mas nunca em toda a minha vida havia me tocado disso. Dá até aquela vergonha de admitir que não se sabia. Mas não dizem que quando não se sabe é quando começa a saber? Pois hoje eu torço para que eu tenha começado a descobrir a parte que não percebia. Quero ser sábia sim! Mas para ser sábio é necessário coragem para admitir os erros, humildade para aprender, mesmo quando achava que sabia e paixão para jogar a cara no mundo, nas pessoas, nos sentimentos, nos estudos e nas teorias. Meus mestres são por completo diferentes e estravagantes. Alguns não existem, a não ser no papel. Outros existem, mas não falam comigo. Outros ainda existem, falam comigo e não se dão conta de quem

A parte

"Não. Não vou sorrir sorrisos de beija-flores diversos, muito menos cantar uma ópera celestina. Vou sentar aqui e ficar apreciando as cores do vento, o olhar das flores e o andar das folhas." Foi tudo que me disseste naquele dia sombreado, ralo de tanto chover. E então bateu aquela vontade de sentar embaixo da árvore e esperar a maçã cair em minha cabeça. Sentei, esperei e nada! Nem uma folhinha sequer para aquietar o espírito e me dar esperanças. Cansei, peguei um livro e fiquei ali a folheá-lo. A idéia nunca veio, mas a falta passou. Você sentado em uma mesa de bar, eu em uma praça mal iluminada. Você conversando, eu lendo. Você continua o mesmo, mas eu mudei. E agora sentas do meu lado como quem não quer nada. Eu rio, porque é tudo que tenho para disfarçar a minha raiva, dor e alegria contidos em uma só emoção. Você não entende, me chama de louca. Eu bebo outro gole do ponche, você me olha. Levanto, encho o copo e vou embora. O amor é tudo que restou de nós e é a parte que

Dos meus repente e desatinos.

Uma cor, um quebra-cabeça, uma mola, um cobertor. Um sapato, um dinheiro, um sorriso, um desprezo. Um batom, um anel, um livro, uma dança. Das loucuras inflingidas, dos riscos gastos em papéis surrados, não se tem notícia: apenas fatos amordaçados e escondidos pelo tempo. A sinceridade inescrutável se desgasta com o tempo e tudo que se torna é silêncio disfarçado de barreira protetora. Se olham, se vêem, mas será mesmo que enchergam além? O sangue escorrendo pelo corpo da mulher amordaçam a idéia de proteção que se fez a tanto tempo. O que é a solidão quando se está em meio a tantas pessoas e o que é o sentir-se junto quando se está sozinho? Não seria pois um caso de sentir a si? Não seria o caso de amar a solidão e a socialização dos outros? Não seria também, ser um pouco egocêntrico, em um nível que não magoe o próximo? Não seria então uma contradição que se constrói todos os dias? O que leva um indivíduo a sentir a dor de um outro qualquer que nunca tinha conhecido, nem visto, nem o

Vazio

Um dia se acorda com uma sensação e vai dormir com outra completamente diferente. Esse é um exemplo clássico da complexidade humana. Se somos tão inconstantes porque acreditamos tanto na constância? Será uma fuga ou uma tentativa de sentir a totalidade? Precisamos sempre de uma promessa de imortalidade. Michael Jackson disse uma vez que todos nós queremos nos tornar imortais e que através da arte ele se tornaria imortal. Shakespeare escreveu sobre o amor eterno. Alguns textos retratam a crença em uma amizade eterna. A paixão por vampiros também tem essa idéia de eternidade. A pedra filosofal, a busca pela imortalidade, as lápides no cemitério, as múmias do egito, os textos escritos, os contos de fada, Deus. Onde está tudo isso? Quais dessas coisas são palpáveis? Precisamos acreditar em alguma coisa. Mas e quando a viseira cai, rasga, despedaça, o que resta da pessoa que perde a esperança em uma eternidade? Talvez seja essa a razão de tantas tatuagens, de tantos nomes e classificações.

Paz, que há muito não sentia.

Acordou com aquele desejo súbito e impenetrável de deitar na grama debaixo do sol e sentir a energia penetrar seu corpo. Estava cansada havia muito tempo, mas não fazia muita diferença, já que a diferença era dor disfarçada de força. Sentou no chão do quarto e começou a contar tampinhas. Haviam tantas e de tantas cores que nem acreditava. Brincou até não querer mais, levantou, andou até o som, mas perdeu a súbita vontade de escutar músicas, sentou de novo e se pôs a meditar. A quanto tempo não meditava, parecia até que seu pulmão estava sendo renovado naquele momento. Levantou, pegou um livro e foi ler. Que saudade do silêncio, do barulho da natureza fazendo seu batuque final. Estava em paz mais uma vez, como há muito não ficava. Deitou a cabeça e não dormiu, ficou ali a ouvir os mínimos barulhos. Não precisava dormir, estava mais uma vez revigorada. Paula Cristina.

Pergunta

É muito simples exigir que se fale qualquer coisa que vem à cabeça. Mas e quando não vem nada? Difícil é para o psicólogo lidar com isso, mas mais difícil é para a pessoa sentada na cadeira à sua frente. Se está no psicólogo é porque necessita dizer, mas o que? Não vem nada na cabeça, é tudo página em branco, um nada absoluto. Gostaria poder se abrir, mas como destrancar uma porta sem possuir a chave correspondente? Paula Cristina.

Precisava reamar-se

O salto prendeu no chão, na pedrinha solta. Sua irritação atingiu o ápice, apagou todos os contatos da lista, desligou o celular, fingiu estar namorando. Fingir estar namorando a impedia, pelo menos naquele dia, de vigiar a casa dele. Pegou um copo de conhaque no bar, se dirigiu para um canto isolado da festa. A vista era de matar, seus pensamentos também. Fechou os olhos respirou fundo, virou o conhaque garganta abaixo e foi pra casa. Estava impressionantemente exausta para ficar com a música alta na cabeça. Precisa de paz, precisava reamar-se. Paula Cristina.

O problema do escritor

Será que leram? Será que não? O ruim de escrever é isso: nunca se sabe. Se se escreve um texto apenas por escrever podem pensar que sentes daquela forma. Histórias que às vezes, queria que fossem reais passam a conflitar quando a realidade não bate. Uma carta de amor que queria entregar quando sentir daquela forma pode ser interpretada como algo que realmente aconteceu. E então como fazer se o namorado não recebeu a tal da carta que jamais foi intecionada a alguém? Calar-se diante das confusões do mundo. Um escritor sabe melhor do que ninguém, que a dor da perda sempre aparece, especialmente quando se vive em dois mundos: o próprio e o real. Pena que nunca se saiba quem leu e quem não. Paula Cristina.