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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

Fim do dia.

E as nuvens estão lindas... os dias passados em branco se tornam papel de cetim raro e o sorriso se torna quase amável e de tão perdido torna-se assustadoramente real e pertubadoramente intrigante. Ela entra debaixo do chuveiro, fecha os olhos, sente a água escorrer pelo seu corpo. É tudo de mais puro que tem agora. Fica horas debaixo dágua. Desliga o chuveiro, deita na cama e adormece, nua. Espera-se sonhar bonito. É tudo que ela tem daquele dia. Paula Cristina.

Alguém percebe?

E eu juro que tem dias que não entendo o que faço nesse mundo. Fico a me perguntar se pertenço de algum modo a essa vida que eu escolhi. A solidão às vezes é arrasadora e tudo que me resta são livros, cenas, músicas. É o que me mantém sã. Não me entenda como uma culta antisocial. Quero conversar, conhecer, socializar, mas tudo que tenho é um medo intenso de parecer diferente. Sei que o sou, mas quando vêem eu me torna alienígena. Meu medo é esse e me arrasa. Será que percebem a vergonha? Paula Cristina.

Identidade

Ela acende um cigarro, desvia o olhar, traga. Encara o jornalista. "Não sei se compreendi, assumo papéis porque é assim que tem que ser. Não dá para vivenciar, entrar em um mundo específico se não encaro o papel por completo." O jornalista a fita por alguns segundos e mantém a tensão ao máximo continuando a entrevista. "Acho, Clarice, que sua necessidade de assumir papéis é a tentativa de manter sua identidade oculta. Você quer que pensem que é do jeito que quiser, quando quiser e da forma que quiser. Seu íntimo permanece intacto, escondido, enquanto seu social parece por si só aberto. Você quer e não quer se fazer conhecer, mas tem medo das consequências". Ela olha desconfiada para o jornalista, apaga o cigarro, vai em direção ao carrinho de bebidas e prepara uma taça de gim com azeitona no fundo. Dá um gole, volta sua atenção ao jornalista e com um sorriso estampado no rosto acrescenta: "se já tem uma idéia formulada do que eu devo dizer, não importa o que eu

Ele

Ela acordou cansada do sonho que teve na noite anterior. Raras vezes ela sonhava com alguém que fizesse parte de sua vida, principalmente que fosse tão amado. Não queria acordar, queria ver os acontecimentos desenrolarem, mas tudo que ela tinha era o que ela percebia do que já havia ocorrido. Por um milagre qualquer isso a fez amá-lo mais e mais quando tudo que ela queria era dar um jeito de não mais pensar e sentir todos os sentimentos que vinham junto com a volta dele à sua vida. Não queria conversar, nem sair, nem nada. Tudo que queria era ficar ali parada, esperando que algo mudasse. Ela não sabia o que fazer mais. Ele fazia falta mais uma vez em sua vida. Paula Cristina.

Pássaro de asas quebradas

Aprisiona-mes em teu ventre, esperando que eu renasça como era. Impressionante é o amor falsiário que não percebe nunca que, aprisionado, o pássaro não canta, o pássaro voa, mas machuca-se nas grades. Seu amor incomoda. Amor que é amor, compreende, deixa livre, segue em frente. Mas esse amor é ideal e por compreendê-lo e vivê-lo a meu modo sou eu o pássaro preso na gaiola de teias de aranha. Paula Cristina.

Minha terra do nunca.

Não sei amadurecer. Confeço ser por completo criança. Sou birrenta, mimada, osso duro, teimosa. Se não consigo, finjo conseguir e de tanto finjir, consigo. Não há uma alma viva que me faça mudar de idéia. Mudo porque quero, quando acho necessário. Escrever faz parte da minha parte perdida, verde, que insiste permanecer infantil. Não sei escrever de outra forma, a forma que escrevo é extensão de mim. Nunca compreendi pessoas que escrevem coisas que não são pessoais. Tudo que se é, se pensa, se age, é próprio, pessoal, infindável para ser colocado em palavras distantes, impessoais. Porque fugir de si, quando dizem que permanecer em si é forma de amadurecer? Eu infelizmente, nunca entendi, como funciona isso. Para mim, permanecer em si, é como ter o egocentrismo aflorado, é a forma mais linda de se infantilizar. As pessoas fogem de si, porque querem continuar crianças, eu permaneço em mim, porque quero eternizar criança. Amo não ser madura, é parte da graça de ser humano. Sou por completo

Adeus meu porto seguro

Eu vou sempre valorizar tudo que vivemos. Você foi necessário, peça importantíssima para o meu crescimento. Mas a vida passa, as coisas mudam, o mundo muda, e juntos mudamos também. Eu mudei, você mudou. Não temos os mesmos ideais, os mesmos sonhos, os mesmos projetos. Sinto muito por fazê-lo assistir meus surtos. Você viu minhas feridas abertas, foi meu porto seguro quando eu pensava não ter ninguém ao meu lado. Agora eu preciso dizer adeus, lembrá-lo que não era para ser. Nosso relacionamento foi feito com um prazo de validade e este prazo chegou ao final. Você foi sorrisos, amores, olhares, alegrias, dores também, mas dores fazem parte. Minha falta de crescimento pessoal me fez procurar a parte destrutiva e você era a vávula que a ligava e a que desligava também. Você me desafiou a ser melhor do que eu mesma acreditava ser, mas chegou, passou e agora é hora de dizer adeus. Adeus ao meu antigo porto seguro, aos meus medos e superstições, aos amores mal amados. Adeus a você que dizia

O jardim

As rosas murchas do jardim desbotado trocaram luzes de cores brilhantes. Os pássaros cantavam uma cantiga alegre, calma, quente. O silêncio se fazia quebrado pela queda da água da bica no piso tão bem montado para varanda de dias tristes. Tristes, porque geralmente só se procura calma quando se está desesperado e não se lembra mais da sensação de tranquilidade. A inquietação se apossa por alguns segundos, mas logo é esquecida e logo a varanda não se torna alvo de observação, mas apenas um lugar onde se senta, lê, conversa, come, bebe, descansa. E assim vai o ciclo. Todas as estações, algumas mais, algumas menos, trocam-se as luzes no jardim para se aquietar o espírito que não pára, que muda, que simplesmente é. Só pela idéia de ser. Paula Cristina.

Caminho

Os olhos pesam, o cansaço é tudo que se tem de noites mal dormidas. A cabeça lateja uma dor sem graça, tímida. O corpo tem vontade de correr para acordar mais esbelto e renovado. O dia se torna mágico sendo cinza e o nervosismo se faz parte de um todo maltratado, esfarrapado, mal-dormido. Levanta, segue em frente, fecha os olhos e caminha. É tudo que tem por agora, mas só por agora. Daqui alguns anos será tuo diferente. O caminho se faz caminhando.

Se eu pertenço

Se eu pertenço, eu não sei a que lugar. Se eu sorrio, é um sorriso enviezado, meio perdido, de quem sorri sem saber como, usando só a alma. Se eu ando, é com passos despassados, que é pra ver se eu arranjo um passo que me faça pertencer. Se eu falo, é com gírias e sotaques e palavreados meus, que é pra ver se eu pertenço a algum lugar. Se eu enfrento as idéias e tento impor as minhas é porque eu não conheço nada além do meu terreno. É porque eu só pertenço a mim e a meus vários personagens que se permutam para tentar me fazer pertencer a alguma coisa, a algum lugar. E se eu sinto que pertenço finalmente, então eu fico, esperando que aquilo a que pertenço permaneça e jamais me deixe ir. Paula Cristina.

A balada

O salto quebrado na mão, a maquiagem borrada e um sentimento de vitória sem sê-lo realmente. Ele nunca percebeu seu carinho, ela nunca explicitou. Não que fizesse sentido, ou mesmo, tivesse razão, mas era assim que era. Ela o notou, ele não percebeu. A música tocando e até mesmo a sensação dele olhando, mas nada, nem um simples comportamento que fizesse sentido ela dizer que tudo vai mudar e provavelmente não vai. Ela só queria que fosse diferente, mas seu orgulho é desmedido, descabido e completamente surreal, mas ainda sim é como uma explosão no espaço. Deu tudo errado e tudo certo no final. Paula Cristina.

Ela não viu

Demorou uma eternidade para que sentasse em frente a lareira, esperando que alguém a alcançasse, mesmo que em pensamento. Sentou, entornou o café, acendeu um cigarro, colocou-o em cima do cinzeiro e deixou seu cheiro tomar conta do aposento. Quanta falta fazia esse cheiro. Cheiro de casa, de lar, de patida e chegada. Ela deitou a cabeça nos joelhos e adormeceu. O eclipse aconteceu. Ela não viu. Desiludiu. Os sonhos eram mais bonitos. Paula Cristina.

Alucinação

A muito não se escrevia bonito, nem tentava passar a beleza do mundo por entre papéis de cetim. Não fazia tanta diferença, a sua loucura havia tomado conta mais uma vez como em tantas outras. Até as vozes que insistia em ouvir agora eram lembranças falsas de um dia não vivido. As crises quase esquizofrênicas eram praticamente o modo mais seguro que tinha naquele tempo em que psicologia ainda não era ciência, não para religiosos. Sentada no canto escuro da sala, ela voltou a sentir a respiração compassada dele em sua nuca. Sabia que ele não estava ali, que era apenas imaginação. Aprendera que não deveria confiar em sua cabeça, não cem por cento e por isso calava quase sempre. Olhava em volta para ter certeza que sua alucinação era apenas isso, o hálito ainda permanecia, mas não havia ninguém. Acendeu a luz, sentou no chão e se pôs a meditar, como a muito não fazia. Não queria dormir, ainda sentia a presença dele em sua cama e isso a amedrontava. Só passando das cinco da madrugada sentiu