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Mostrando postagens de junho, 2010

A voz no telefone

O telefone tocou uma, duas, três vezes e do outro lado uma voz diferente, mas conhecida atendeu. Estava tão perdida em pensamentos e barulhos externos e internos que não conseguia raciocinar de quem era a voz. "Quer falar com quem?" - perguntou. Responde o nome da amiga. "Ela não está aqui agora, quem é?". "Mary Anne." a voz responde: "Mary Anne? Quando ela voltar, aviso que você ligou. É o Thomas quem está falando." Ela responde "Quem?", ele: "Thomas". Ficou sem reação. Ele sabia que era ela, tinha certeza agora. A pergunta foi mais uma forma para dizer quem falava. O coração bateu acelerado. Será que era ele mesmo? Existem tantos Thomas no mundo. Mas não, devia ser ele! Só podia ser ele! Desligou o telefone, ainda sem reação. O sorriso se alargou na face. Que saudade. Que saudade. Paula Cristina.

Talvez

E a decepção caiu, mais uma vez, como uma luva. A sinceridade que se esperava se tornou implicantemente traiçoeira. E a vontade é de matar quem quer que seja. Tudo bem que a sinceridade sempre foi o que mais fez, mas às vezes se escorrega, mas dessa vez foi tudo mil falsidades, tudo mil perdições, tudo ridiculamente falseado. Será que algum dia ela soube do acontecimento, será que algum dia ela soube que o acontecimento fez tudo doer. Será que ela sabe do arrependimento? Talvez enquanto se acha que ela foi a falsa, na verdade ela se sente a vítima. É, talvez. Paula Cristina.

A vida é uma busca da beleza e a arte acaba com a solidão.... - trecho um pouco modificado de Marlena De Blasi

Correu até não poder mais, até as pernas arderem. Tomou um banho, escreveu mais um texto revelador, cheio de vontade de viver, de ser real, deitou na cama e dormiu. Acordou na mesma posição, calmamente levantou, lavou o rosto, escovou os dentes, tomou café, escovou os dentes de novo. Vestiu uma roupa, a primeira que viu no guarda roupas, calçou o tênis, passou perfume, pegou um brinco, uma pulseira, um colar, um anel. No carro a música a animava , a medalinha em sua bolsa ficou aparente e ela então se lembrou de como costumava ficar e percebeu que mesmo não sendo a tempos atrás, parecia que era. Sorriu e deixou a medalinha ali, à vista. A medalinha já não era uma coisa que a lembrava da guerra que travava todos os dias consigo, era algo que a lembrava de como foi um dia difícil chegar ali e como agora ela estava bem. O esforço valeu, as lágrimas serviram de crescimento e o sorriso era tudo que tinha e que agora ocupava o lugar da dor que antes reinava. Ao seu lado, hahaiah sorria um so

Sinto muito, meu amor.

Se tenho algo a dizer? Tenho muito a dizer, mais do que imagina. Se te amo, te amo demais. Se te odeio, odeio de menos. Não nasci para provocar dores, nasci para amar, cuidar. Existem pessoas que não querem esse cuidado e disso, nada posso fazer. Se me importo, é porque você merece. Se eu parto, é porque a dor que você me aflinge é insuportável. Não sei se te amo, se gosto ou simplesmente se me acostumei a dizer que te amo, que te gosto. Isso não vem ao caso, o que se torna discutível aqui é justamente o fato de permanecermos como se nada tivesse mudado. De onde vem essa necessidade louca que não nos deixa ir embora, nem permanecer? Preciso de paz, de tranquilidade, de auto-satisfação e a sua luxúria me deixa em pedaços, em frangalhos, mesmo que eu esteja bem aparentemente. Se me dou, me dou por inteira e não posso te dar cerejas, você não aceitou os lírios, apesar da minha insistência. Você diz que sente minha falta, mas eu não sei o que isso quer dizer. Se tantas vezes tentei dar cer

"Na vida de cada um de nós... há um lugar, remoto e ilhado, escolhido para remorso interminável ou para a felicidade secreta." Sara Orne Jewett

Ah, como o homem é cruel às vezes. Com sua vontade de manter, estraçalha corações, esquece que existe um ser ali, do outro lado do espelho se entregando, se retorcendo. Como torço para que o ser do outro lado do espelho saiba voltar a si. Nas horas de desespero, oro que o ser saiba chegar ao seu "lugar feliz". Será que ele tem? Será que não? Torço que sim, oro que sim, rogo que sim. É desse lugar que todos os seres precisam, principalmente em um mundo tão incrivelmente conturbado. De um lugar em que se possa voltar para relaxar a tensão e distribuir calmaria. Você conhece o seu? Já visitou o seu? É uma casa no lago? Ou uma praia, quem sabe? Uma fazenda, com bois e tudo? Ou a grande cidade? É um amor à noite? Ou uma amiga que acolhe? Pode ser um livro também, ou um jardim de rosas. Qual é o seu lugar? Você o visita mentalmente? Lembra dos cheiros que ele evoca ou da brisa leve? Encontre o seu lugar e não o deixe desmoronar, é para ele que a gente volta, é nele que a gente viv

Às vezes é necessário cavar.

Me pedem que me explique, que eu dê justificativas confortáveis para um porque me saí mal, porque não sou uma boa aluna, ou até sou, mas porque não me saí bem nisso ou naquilo outro. Pedem que minhas justificativas cheguem ao professor, porque assim ele vai compreender. Mas essa não é a questão, nunca foi. Sou mais do que meras explicações e isso me traz em evidência. A partir do momento que me explico, sou mais cobrada ainda, tenho que correr atrás de um prejuízo e ainda demonstrar que estou correndo para dizer "viu, sou aplicada, era só uma fase...". Não, não e não! Prefiro assumir consequências de dores, de problemas. Já basta minha culpa e ainda devo carregar o peso das expectativas de outrem? Não, não e não. Tudo na vida tem explicação, mas o mundo não pára para que consertemos as coisas, para que reorganizemos as coisas. Um furacão passa, destrói casas e acabou! Pode-se construir outra, mas não tem ninguém para passar a mão e dizer "vem cá, minha casa é muito linda

Tem dias....

Tem dias que simplesmente não se tem nada para dizer e é justamente aquele dia em que mais se quer falar. Tem dias que a pulga acorda atrás da orelha e que se veste a blusa ao contrário. Tem dias que tudo sai de linha e é justamente nesses dias que se é mais do que pensaria que podia ser. Tem dias que se acordou com o pé esquerdo, mas tudo parece lindo, tem dias que tudo deu certo, mas parece que está tudo errado. Tem aqueles dias ainda que se vira bicho, tem dias que se vira água. Tem dias, tem dias, tem dias. Tem dias como hoje, que não se tem nada para escrever, mas a vontade de fazer um "super-big" texto é enorme. Tem dias que as coisas não fluem e tem dias que fluem até demais. Tem dias......... t e m d i a s que tudo parece estranho, meio ambíguo, bizarro escaldante. Tem dias que as idéias parecem ridículas e perfeitas, ao mesmo tempo e cabe a alguém dizer o que achou delas. Tem dias que as cores estão mais cores e o céu está mais perto. Tem dias que o anel vira aliança

Lírio

A rosa vermelha vivia em um jardim só de rosas. O lírio apaixonou-se pela rosa e tentava sempre arrancá-la do jardim. A rosa, não aceitava, tinha criado raízes, aquele era seu jardim, seu lar. O lírio chorava noites e noites desesperado. A rosa, quando se sentia sozinha chamava o lírio para um jantar. O lírio, que não sentia que tinha casa ia, queria uma casa com a rosa. A rosa insistia que ficassem a se ver apenas nas épocas que sentia solitária, eles não dariam certo juntos, eram muito diferentes. O lírio insistia, chorava, pedia, sofria sozinho. A rosa não percebia a insistência, pois o lírio sofria sozinho, não deixava que vissem sua alma, sua dor. A rosa vermelha então se apaixonou por uma rosa branca e o lírio ficou solitário, doente, machucado, perdido. A rosa não soube disso. Em um dia nublado o lírio viu a rosa caída no chão, despedaçada. A rosa estava morta. O lírio em desespero guardou suas pétalas vermelhas e assim seguiu sua vida, sempre de luto, pois a rosa morrera. Passo

Sussurros de Hahahiah

Cansada de mecher no livro de receitas deitou e tentou fechar a mente. Ultimamente sentia-se exausta. Levantou, tomou um banho, se arrumou e saiu. Mal chegara na festa ele apareceu. Aquele ar de galã sempre o rondando. Como odiava aquilo. Ele sabia deixá-la completamente sem ar, sem chão. Respirou fundo para que ninguém notasse as lágrimas que brigavam com seu corpo para surgir sob os olhos e manchar a maquiagem. Cumprimentou-o como se fosse um qualquer, mesmo querendo gritar a todos os pulmões "PORQUE NÃO EU?". A música ensurdecedora parecia cantiga de ninar de tanto caos empreguinado em si. Dirigiu-se ao bar, preparou um coquetel, virou à esquerda a um canto para encontrar um lugar onde pudesse sentar sozinha, com a música tocando levemente de longe, onde as sombras esconderiam a dor transparecida em suas mãos trêmulas. Achou o lugar perfeito: a beira de uma piscina, sob um lua de sangue. Alguma coisa estava por acontecer da qual ela teria que se afastar, mas o que? Ficou a

Intimidade

Intimidade é difícil. Durante dias me pego neste assunto e hoje, por razões reais, mas qualquer resolvi deixar que minha vontade de escrever sobre isto sobressaísse. Acredito que existe diferentes formas de intimidade: a atraente, a reticente e a arruaceira. A atraente dá a liberdade, mas reconhecendo limites e não fica por muito tempo ou ela se tranforma em reticente ou acaba. É típica de pessoas que gostam de estar sozinhos. A reticente, que vive em expansão e crescimento, mas nunca chega ao ápice da intimidade, pode se transformar em arruaceira. Típica daquelas pessoas que odeiam ficar sozinhas, mas também odeiam que invadam seu espaço pessoal sem permissão. E a arruaceira, essa pode fazer um estardalhaço emocional, porque ela é típica de pessoas que não percebem a individualidade do outro, é doentia. Eu me encaixo na atraente. Mas porque estou falando disso? Acho que quando se começa a fazer terapia a gente aprende a falar de si e, assim, aprende também, a pensar em si, a refletir.

O dia secreto

A sala escura, fria e silenciosa. Quase não se percebia a menina brincando de quebra-cabeças em um canto. "O que faz aqui?" - perguntou a mulher contendo o susto. "Estava esperando a senhora. Queria saber se sou louca". A mulher olhou-a nos olhos da garota e percebeu a dificuldade que ela tinha em conter as lágrimas que se formavam sobre seus olhos. "Claro que não" - respondeu a mulher se perguntando o que levara a garota a fazer uma pergunta daquelas. A menina, como que percebendo a indagação da mulher, responde as pessoas diziam que ela é louca porque escreve histórias que passam detalhadamente em sua cabeça e quase se tornam reais de tão insistentes que são. A mulher sorriu, "você não é louca, é artista. Loucura seria se deixasse de escrever, aí quem sabe as histórias realmente seriam reais e talvez eles se envergonhariam de não ter aceitado um simples texto". A garota, mais calma agora, com as lágrimas enxutas, levantou e já se dirigia à por