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Mostrando postagens de setembro, 2010

O abraço

Estava ali, alheia ao mundo, sem saber por onde andar. De repente um abraço, o abraço mais lindo do mundo. Daqueles abraços espontâneos que dá vontade de retribuir e não soltar nunca. Mas o material seguro ao peito não deixou que o abraço concluísse com sucesso o seu objetivo. Que vontade daquele abraço: da sinceridade estampada no ato, do carinho, da leveza. Foi lindo, mas como tudo de mais bonito no mundo, durou apenas tempo suficiente para marcar, para mudar, revolucionar. Aquele era o abraço mais bonito do mundo! Paula Cristina.

Uma noite perfeita

Não sabe se é dom ou maldição esse ir e vir consciente. Sabe que no fundo se importa, mas então, quando vê a dor que pode arrebatá-la e amordaçá-la, simplesmente vira na próxima esquina, se esquivando de tal forma que nem Freud explicaria. O controle se torna extremo e a tristeza de não tê-lo simplesmente paira em um "meio plano" considerado inexistente. Tudo muda e a paz instaura. A força volta de forma brutal e quando vê já não é mais a vítima, mas o caçador e tudo passa a não ter tanta importância quanto se pensava ter. Talvez a linha para a sociopatia esteja a milímetros, talvez seja apenas uma hipocondria aguda. Não sabe ao certo. As luzes começam a acender na rua. A música tocando suave um blues inconfundível, o barulho do msn, as teclas e o mouse usados compulsivamente. O livro de cabeceira em cima da mesa. O cigarro posto no cinzeiro com cuidado esperando ser reutilizado enquanto aceso. A cerveja também posta de forma a ser alcançada, o porta copo embaixo já molhado p

Preciso

Preciso de uns dias cheios, onde não pense em nada além daquilo que preciso fazer. Preciso de uns dias sem internet, sem passadas que me levam a sua porta. Preciso de algo que me tire os pensamentos e que não me deixe louca por completo. Quem sabe um passeio pela praça e a leitura de diversificados livros ao mesmo tempo. Quem sabe um pouco de açaí misturado com um bom banho de cachoeira regados a momentos de dança e descontração. Um pouco de música ao fundo e uma boa garrafa de rum. Talvez alguma coisa mude até em mim e tudo passe. Apenas passe. Paula Cristina.

A um passo

Era tudo tão simples, eu não gostava, eles não sabiam, eu seguia em frente, de cabeça erguida, mudando tudo à minha volta. Mantinha minha vida tão calma quanto possível e tão simples quanto sempre foi. Nada além, nada diferente. A insônia deixava de existir depois de um tempo, porque ela era causada pelo não conhecimento do que poderia ser e eu nunca achava que seria algo. Era apenas uma coisa que mudaria, que transformaria, mas que não serviria muito para o que quer que fosse. Mas então a insônia e os sonhos pertubados voltaram juntamente com um sorriso que só sai do rosto quando vêm as lágrimas de medo do desconhecido. Eu poderia me apaixonar loucamente e estou a um passo de fazê-lo. Estou a um passo de te olhar nos olhos e sentir sua mão segurando a minha. Estou a um passo de sentir seu cheiro de longe e a um passo de te ver em todas as esquinas. Estou a um passo de ser a pessoa mais romântica do mundo, a um passo de ter alguém e isso é, no mínimo, diferente. Estou a um passo de voc

Loucura

Confesso escandalosamente que perdi a noção quando as botas tocaram o carpete macio. Meus pés soltos no ar pediam um chão em que pudessem fincar os dedos para confirmação de uma terra firme, segura. Não acharam nada além da nítida falta de juízo que se apoderava de minhas idéias insanas de liberdade extrema. E que liberdade! Depois de um tempo o corpo se acostuma com a loucura e, a procura por estabilidade é apenas durante uns míseros segundos em que se confirma que a certeza já era, sumiu. Os braços abertos, a brisa percorrendo todo o corpo, a adrenalina subindo às alturas. Como era fácil voar! De braços dados, esperando que qualquer coisa fizesse cair. E quando se pensou que não, o olhar estava lá e soube que sua liberdade era linda. A mais linda e pura de todas. Deitou a cabeça nas nuvens. Podia sonhar, pelo menos, aquele dia. As botas permaneciam ali, no carpete, agora já úmido. Esperaram por uma eternidade, quase se desmanchando em desespero de serem calçadas, mas não foram calça

Um cara

Você veio e se foi e eu fiquei esperando parada, ouvindo a música ao longe e fingindo ver algo além dos olhos. Não via nada. Tudo que sabia era o beijo que você me deu. Calmo, sedutor, forte. De repente senti sua mão esvaziando a minha e quando me dei conta estava sozinha. A diferença é que eu não queria estar sozinha, queria estar contínua, queria estar junto. Marie Anne.

Ser diferente

Ser diferente me permite estar longe quando preciso e perto quando necessito. Ser diferente, me permite sorrir com as loucuras alheias e amar as falhas acometidas e até querer algo além de mim para dar sombra a um necessitado. Ser diferente me permite impressionar aqueles que já não se impressionam mais e amar aqueles que não se amam. Ser diferente me permite ser louca, feliz, corriqueira, perdida, santa, quieta, querida, álcoolatra, drogada passível. Ser diferente me permite ser livre, mesmo impossibilitada de alguma forma. Ser diferente me permite amar da forma mais estranha e mais linda que posso e compreender pessoas, simplesmente porque são o completo oposto de mim e ainda conseguir ver um resquício de igualdade. Ser diferente me permite ser eclética, sem opinião e com opinião demais, tudo ao mesmo tempo. Ser diferente me permite ver e experenciar o mundo do modo como eu o vejo, o amo e o sinto. Ser diferente, simplesmente, por amar ser diferente. Paula Cristina.

Ela ainda não se recorda

O celular tocou pausadamente, enquanto ela esperava ser atendida. não foi atendida, pegou a bolsa, batendo a porta às suas costas. A noite estava agradável. Os carros passavam alheios a ela. Perdida em seus próprios pensamentos parou diante de uma praça linda, foi até o barzinho da esqina, comprou uma cerveja e sentou em um banco da praça. Ele nunca retornou e ela esqueceu da ligação, esqueceu dele. Passados dois anos, ela ainda não se recorda. A paz se instaurara sem que percebesse. A praça ainda está lá e todos os dias, ela também, com a cerveja e o cigarro na mão. Paula Cristina.

Os livros me ensinaram

Os livros me tiraram da cabeça e puseram no coração. Os livros me ensinaram a sorrir de novo e a viver de novo. Os livros me tiraram a solidão e colocaram saudades em meu coração. Os livros me ensinaram a esquecê-los de vez enquando para que eu me lembrasse de mim sempre. Os livros me ensinaram que apesar do medo, não adianta eu me esconder: eu estou ali, nua e crua, esperando ser amada e compreendida por ninguém mais que eu mesma. Os livros me ensinaram tanto, mas não me ensinaram a acostumar com as tristezas. Para eles, se eu me acostumar com as dores, esquecerei a sensação de sentir e o mais bonito da vida é sentir. Sentir o frescor da brisa que balança a copa da árvore, sentir o gosto da sua bebida favorita, sentir o toque de alguém especial, sentir o roçar das folhas em contato com o dedo, sentir a água percorrendo o corpo. Sentir, apenas sentir. Isso, os livros me ensinaram sublimemente e eu nunca esqueci. Paula Cristina.

Que culpa eu tenho?

Que culpa eu tenho se me apaixonei por um canário? Que culpa eu tenho se não admito para ninguém? Que culpa eu tenho se o mundo espera uma coisa e eu só vivo outra? Que culpa eu tenho de não confiar se o mundo me ensina a fazê-lo? Que culpa eu tenho de viver confusa, assustada e completamente amordaçada? Que culpa eu tenho pelas culpas que carrego? Odeio me sentir culpada e, por ironia, sou culpada o dia inteiro, o tempo todo. Que culpa eu tenho?

O olhar

Há quanto tempo não existiam olhares como aquele. Ele olhou e o corpo dela arrepiou todo com um olhar. Era tão penetrante que não conseguia mantê-lo, por mais que quisesse. Lindo, sensual, atraente, engraçado, divertido, inteligente e... que olhar! Olhares nunca faltaram, mas este era diferente, era especial. Pela primeira vez, em anos, ela queria corresponder um olhar. Como foi divertido e emocionante, como a tempos não era. E foi assim o dia inteiro, a noite inteira, a manhã inteira. E a vontade de reencontrar aquele olhar? A vontade de se deixar levar era enorme. O obstáculo lançado e a perguntava não se calava: será que foi tudo imaginação, será que só ela queria? Talvez nunca saiba, talvez nunca mais o encontre. A idéia é torcer para que tudo dê certo, mesmo que nada indique que dará. Paula Cristina.