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Mostrando postagens de novembro, 2010

Minha alma de artista

De tudo que vivi, de tudo que passei, a coisa mais linda que fica em mim é a minha própria alma. Essa alma que vive, que reza, sorri e chora tem sua própria forma de se dizer, de se fazer reconhecida no exterior da minha pessoa e essa forma é a arte. A música cantada, dançada, tocada, os textos interpretados ou escritos, todos com o mais profundo sentimento. É assim que a alma se expressa e quando outra alma sente e se emociona com a expressão da outra, é nessa hora que o mundo se torna ínfimo, bonito, transparente. Tudo parece ficar claro, calmo, óbvio: o mundo é lindo, o mundo é mágico. Vou e volto e nunca sei para onde irei daqui a algum tempo. Tenho tanta coisa para fazer, tanta coisa para conhecer que me perco em vontades e me esqueço da vontade da minha alma, esqueço que a vontade de minha alma é vontade do meu eu. Mas então, de alguma forma, o mundo se encarrega de me levar de volta àquilo que tanto amo, àquilo que às vezes me esqueço ser essencial em minha vida. As sapatilhas,

Palavras

É tão complicado a expressão do mundo em palavras. Elas são tão pequenas, tão insignificantes diante do sentimento que as contém e das diversas surpresas que o mundo pode nos oferecer. O que é uma palavra, senão a tentativa de expressão de algo muito maior, muito mais complexo e com a visão de um lado só. As pessoas esperam da palavra uma verdade absoluta, mas a palavra pertence a quem as pronunciou e essa pessoa não tem o conhecimento da verdade por inteira, apenas da alienada visão de mundo que têm, que aprendeu, que conheceu. Como fazer então? Além desse "mínimo" problema, existe outro: a palavra dita versus a palavra interpretada, versus a palavra lembrada. É tudo tão além do que pensamos saber, do que pensamos conhecer. De repente tudo fica confuso com tantas verdades partidas ao meio, quantas certezas com mais de um lado e quantas luzes no túnel apagadas por uma visão distorcida, por um tampão bloqueando (dos olhos) a entrada da luz... é preciso usar as palavras para re

O seminário

Foi tudo muito calmo, tranquilo, leve e solto até aquele momento crucial. O momento que veriam o que eu sabia de tudo que eu tinha certeza que não sabia. Juro, queria sair correndo, mas de tão paralizada, tudo que consegui fazer foi respirar fundo e dar um jeito de enganar todos. Contar para eles que eu sabia um pouco daquilo que nada sabia. E as palavras foram saindo, os olhos passavam por cada linha, cada pedaço de letra que transparecia em minha frente. Todos os olhos voltados para mim (eu que não sabia nada). E a medida que as palavras saíam eu descobria que sabia um pouco daquele nada que acreditava não saber. Do mínimo que exigia que os outros soubessem, mas que eu mesmo nunca sabia. E com o decorrer do tempo me vi inteiramente envolvida com algo que nem eu sabia que existia dentro de mim: uma mente pensante que sabe um pouco (o mínimo), mas o suficiente para fazê-los compreender. O medo, a vergonha, o desconcerto se transformavam e uma calma e uma serenidade fora do normal. Cois

Sem direção

O carro virou a Quinta Avenida de alguma cidade qualquer. Não tinha noção de onde estava, só pretendia sumir daquele estado (a alguma horas atrás desligou o celular, pegou as roupas, os cds, os livros e seu caderno, checou se ainda tinha crédito suficiente no banco e pegou o carro. Sem direção que estava foi escolhendo as estradas e rodovias que pareciam mais bonitas e agradáveis). Deu em um cemitério todo iluminado, bonito de se ver. Ao lado do cemitério havia uma pequena capela, um pouco diferente das outras. Achou curioso o que viu (só podia ser o destino pregando alguma peça de mal gosto). Gravado, em cima da porta, haviam as seguintes palavras: "mate alguém em pensamento ao entrar, ore por essa pessoa aqui dentro e siga em frente ao sair". Era exatamente o que precisava fazer matá-la de uma vez. Pensou bem forte "você se foi e é passado para mim, você morreu". Manteve essas palavras em mente durante todo o percurso até a cadeira que escolheu sentar. Sentou e co

Ao léu

A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem

Uma noite.

A taça vermelha de contraste com a toalha branca. Os dedos ágeis esperando o momento oportuno para mudar de direção. A água passava levemente por seu corpo e tudo parecia diferente, afetado. Era tudo lindo, inusitado, fácil. Era fácil ficar ali, esperando, olhando, observando, absorvendo cada detalhe, cada pedaço de tempo, de momento, de paixão descontrolada que a abordava como um temporal. Vulnerável da forma mais louca, da forma mais surreal, na realidade mais obscura e sem futuro certo. Não importava, desde o sussurro saindo de seus lábios ou de seu olhar penetrante. Ele sabia quem ela era, mesmo quando ela pensava estar escondida dele. Não importava aquilo agora, nada importava além da sensação de extrema calma que a invadia. A cautela não existia por um momento, não porque havia sumido, mas porque não precisava dela. Fechou os olhos, sentiu o cheiro. Abriu os olhos, sentiu a luz. Falou, ouviu, riu, emudeceu. Era muito fácil ser ao lado dele, era muito fácil estar com ele. Paula