Que culpa eu tenho se me apaixonei por um canário? Que culpa eu tenho se não admito para ninguém? Que culpa eu tenho se o mundo espera uma coisa e eu só vivo outra? Que culpa eu tenho de não confiar se o mundo me ensina a fazê-lo? Que culpa eu tenho de viver confusa, assustada e completamente amordaçada? Que culpa eu tenho pelas culpas que carrego? Odeio me sentir culpada e, por ironia, sou culpada o dia inteiro, o tempo todo. Que culpa eu tenho?
A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem
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