Perdi a linha de raciocínio pelos dias afora. Quiz escrever tantas e tantas vezes, mas simplesmente, aquele momento de silêncio e encontro comigo não acontecia... Tratei de tentar meditar nas horas vagas e, às vezes, surgia um assunto para tratar, mas ainda não era hora de por no papel. A hora não chegou e tive vontade de dizer algo, mas este algo me escapou. Estou tão contente de mim, tão contente da vida, tão contente de tudo que transbordei e deixei o sorriso espirrar um pouco da pressão de alegria que assola meu peito. É por isso que quando quero escrever, fica difícil sair o que eu queria dizer. Preciso transbordar, explodir de emoção, deixar tudo entrar para depois sair. Escrever para mim é isto: comunicar o que não dá para ser comunicado, transformar em palavras o que é tão forte que perde a capacidade da fala. Escrever para mim é soltar a alma e deixá-la esparramada nas palavras.
A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem
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