quinta-feira, 1 de abril de 2021

Honrar o palco

Outro dia minha aluna usou uma expressão que ficou ecoando em minha mente: "Honrar o palco". E me fez pensar como eu honro o palco. Nunca tinha parado para pensar que a minha ação com o palco sempre foi essa: ter o privilégio de elevar meu público.

Nunca estive no palco para receber aplauso, mas para ver os olhos do meu público brilhar, fazer a diferença, ser útil e necessária. De nada me importa elogios vazios ou me tornar famosa ou ser a melhor. Me importa fazer o público se apaixonar, sorrir, chorar, se emocionar, se elevar.

Essa é a minha função: transformar vida, sentimentos e pontos de vista. Para que eu faça essa alquimia preciso da minha voz, da música, do palco. Eu honro o palco e honrei tantas vezes sem nem saber. Honrei com voz, com sangue, com luta com performances e personagens diversos que me ensinaram tanto sobre mim e sobre a vida.

Eu honro o palco, seu cheiro, o toque do chão nos pés, a luz que me acolhe, as coxias que me abraçam antes e depois de entrar em cena, cada pedacinho dos bastidores e a vastidão do céu metálico que cobre nossas cabeças no palco. Honro a cortina que se abre e fecha e o público que me recebe. Como eu honro!


Paula Arrais

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Sobre harmonia



Outro dia escutei os pássaros cantando na porta de minha sacada. Fiquei a me deleitar e então percebi que todos, cada um com seu timbre, cantavam na mesma tonalidade. Foi uma aula linda sobre harmonia. Harmonia é isso: conexão. Se estamos alinhados com nosso propósito as coisas se conectam, se harmonizam, se ajeitam.

Esse é o meu propósito na música: conectar e harmonizar por meio da minha voz, das minhas aulas e das minhas artes. Se você me escutou cantando é porque algo ali era pra você, assim como para todos que estavam envolvidos no processo. O que temos a aprender com isso? Cada um vai descobrir na sua individualidade a sua própria relação com o todo. Nem sempre fica claro e, muitas vezes, demora para descobrirmos, mas com o passar do tempo e de muito olhar para dentro a gente compreende.

Que a minha voz, o meu canto, a minha arte e a forma como eu ensino e passo meu conhecimento se harmonize com o todo e possa tocar o coração daqueles que precisam, independente do que seja. E a pergunta que sempre fica é: o que eu posso aprender com isso?


Paula Arrais

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Uma reflexão sobre a "Cultura do cancelamento"

Hoje parei para observar como nós enquanto sociedade estamos frágeis, expostos e instáveis. Uma onda de cancelamentos vem acontecendo em todas as esferas de nossa vida. Não que o cancelamento já não existisse, mas hoje ele está mais escancarado. A pergunta que ficou ecoando na minha cabeça hoje ao abrir os posts do Cotidiano.dela é: "porque deixamos chegar ao ponto de cancelar?" Porque não enxergamos antes? Será que está faltando olhar para dentro e entender nossas posições ou olhar para o outro? Será que estamos justificando demais as atitudes de alguns porque valorizamos coisas que não devíamos valorizar e acabamos por não enxergar os sinais? Será que estamos passsando pano e justificando atitudes porque sentimos que já estivemos no mesmo lugar e nos justificamos ao justificar o outro? Será egoísmo de não assumir a responsabilidade dos próprios erros e assim, justificamos erros dos outros para aliviar os nossos? Estamos assumindo as consequências de nossos próprios atos? Qual a nossa responsabilidade no caminho antes do cancelar? Como chegamos no cancelamento? Porque para cancelar, é preciso ter ativado antes. É preciso ter seguido antes, é preciso ter comprado a ideia, é preciso ter assinado embaixo em algum momento. Onde erramos no caminho? Onde passamos o pano? Onde eu deixei de ter responsabilidade e por isso projetei no outro? 

Isso vale também para avaliar o cancelar e aí depois os descancelar e cancelar de novo e descancelar de novo e de novo e de novo. Um ciclo vicioso de "é bonzinho", "não é bonzinho". Somos todos bons e maus em algum momento. "Ai, não era eu...". Era você, mas uma parte sua que não soube lidar melhor com aquela situação e está tudo "certo". Era o outro, mas uma parte dele não soube lidar e está tudo "certo" também. Somos todos humanos e a humanidade implica em erros e acertos, implica em aprendizagem constante. E muitas vezes será preciso repensar rotas, mas o cancelar implica um compromisso antes. E a minha pergunta fica: porque estamos fazendo compromisso com algo ou alguém que ainda não ficou tempo suficiente para fazermos escolhas saudáveis e com pé no chão? Essas avaliações são importantes para não cancelarmos e depois descancelarmos ou ainda, para não precisarmos cancelar sem necessidade. 

Essa é a maior das questões que tenho me feito há alguns anos e que vem mudando minha forma de conviver com as pessoas ao meu redor. Que vem respaldando minhas escolhas e minhas mudanças de caminho. Olhar para dentro e para o outro. Compreender e não julgar, mas também procurar não respaldar atitudes que não são legais nem assumir compromissos antes de se ter um quadro mais amplo de toda a situação. Assumir os erros e acertos, arcar com as consequências e acima de tudo, fazer escolhas mais saudáveis, sustentáveis e éticas para mim e para o próximo. Que sejamos amor e soma.

Paula Arrais

sábado, 30 de janeiro de 2021

Homenagem a Lipe


E ontem você partiu. Deixando uma vida linda e repleta de ensinamentos. Você na sua pequenez me ensinou sobre paciência, sobre aceitação, amor incondicional, respeito, resiliência e alegria de viver. Você que esteve presente na minha vida com força total, foi meu escudo da dor, meu companheiro de todas as horas, me fez rir quando não sentia ser possível e me ensinou a ver beleza nos dias mais difíceis. Você, que amava fugir de casa para correr pelas ruas, que amava uma brincadeira e era o terror dos guardas do condomínio que ligavam pedindo ajuda para pegar o cachorro que dava "hola" em todo mundo só pela diversão do pique-pega. Você que amava um cafuné e ficava horas deitado no colo (só por ficar), mesmo naqueles dias que estava super calor. Você que amava lamber e dentre os vários apelidos, recebeu o apelido de lambe-lambe.
Obrigada por me dar a oportunidade de cuidar de você e ter uma vida compartilhada com você. A saudade será eterna aqui, mas com a certeza de que nada nem nenhum momento foi desperdiçado. Eu te amo muito. A bolinha de pelo agora se tornou uma bolinha de luz que vai sempre me guiar. Tudo que me resta agora é distribuir todo o amor que era destinado a você a tantos outros lugares que me sejam requisitados. Que eu possa retribuir o amor que você me deu pelo mundo afora. 


Paula Arrais

Carta a Amandinha

E hoje é seu dia e venho pensando em nós por muito tempo. Fiquei rindo: é seu diz e vou falar de nós? Sim, porque eu sei que amar é se mistu...