Hoje parei para observar como nós enquanto sociedade estamos frágeis, expostos e instáveis. Uma onda de cancelamentos vem acontecendo em todas as esferas de nossa vida. Não que o cancelamento já não existisse, mas hoje ele está mais escancarado. A pergunta que ficou ecoando na minha cabeça hoje ao abrir os posts do Cotidiano.dela é: "porque deixamos chegar ao ponto de cancelar?" Porque não enxergamos antes? Será que está faltando olhar para dentro e entender nossas posições ou olhar para o outro? Será que estamos justificando demais as atitudes de alguns porque valorizamos coisas que não devíamos valorizar e acabamos por não enxergar os sinais? Será que estamos passsando pano e justificando atitudes porque sentimos que já estivemos no mesmo lugar e nos justificamos ao justificar o outro? Será egoísmo de não assumir a responsabilidade dos próprios erros e assim, justificamos erros dos outros para aliviar os nossos? Estamos assumindo as consequências de nossos próprios atos? Qual a nossa responsabilidade no caminho antes do cancelar? Como chegamos no cancelamento? Porque para cancelar, é preciso ter ativado antes. É preciso ter seguido antes, é preciso ter comprado a ideia, é preciso ter assinado embaixo em algum momento. Onde erramos no caminho? Onde passamos o pano? Onde eu deixei de ter responsabilidade e por isso projetei no outro?
Isso vale também para avaliar o cancelar e aí depois os descancelar e cancelar de novo e descancelar de novo e de novo e de novo. Um ciclo vicioso de "é bonzinho", "não é bonzinho". Somos todos bons e maus em algum momento. "Ai, não era eu...". Era você, mas uma parte sua que não soube lidar melhor com aquela situação e está tudo "certo". Era o outro, mas uma parte dele não soube lidar e está tudo "certo" também. Somos todos humanos e a humanidade implica em erros e acertos, implica em aprendizagem constante. E muitas vezes será preciso repensar rotas, mas o cancelar implica um compromisso antes. E a minha pergunta fica: porque estamos fazendo compromisso com algo ou alguém que ainda não ficou tempo suficiente para fazermos escolhas saudáveis e com pé no chão? Essas avaliações são importantes para não cancelarmos e depois descancelarmos ou ainda, para não precisarmos cancelar sem necessidade.
Essa é a maior das questões que tenho me feito há alguns anos e que vem mudando minha forma de conviver com as pessoas ao meu redor. Que vem respaldando minhas escolhas e minhas mudanças de caminho. Olhar para dentro e para o outro. Compreender e não julgar, mas também procurar não respaldar atitudes que não são legais nem assumir compromissos antes de se ter um quadro mais amplo de toda a situação. Assumir os erros e acertos, arcar com as consequências e acima de tudo, fazer escolhas mais saudáveis, sustentáveis e éticas para mim e para o próximo. Que sejamos amor e soma.
Paula Arrais