A música tocava e eu senti cada miúdo da alma, cada palavra, cada nota. Senti, senti tanto que parei para refletir, deixei-me vaguear e deu aquele baque de quem percebe alguma coisa doída, estranha, nova, verdade. Aquelas verdades escondidas por baixo de pano que te faz estremecer. Pois bem, estremeci. Respirei fundo, acendi uma vela, sentei no chão e me deixei, naquele escuro pausado de vela, vagueando, pensando, refletindo. Me dei conta de tanta coisa, me dei conta de que mudei. Mudei mais do que imaginava, menos do que eu esperava, o tanto exato para se dizer "no ponto". No ponto de mudar mais um pouquinho, crescer mais um pouquinho, chegar ao que eu esperava, sem ser exatamente o que eu espero hoje, porque a gente anda e o caminho se abre e você vê mais longe e pensa "vou chegar lá, não cheguei, ainda, nem aonde eu queria, que é meio caminho até aonde eu quero agora, mas eu chego. Ah, se chego". E então eu ri, será que daqui uns meses as músicas, os livros, as roupas que eu amo serão os mesmos? Fechei os olhos e fiquei escutando tudo à minha volta e pensei comigo "algumas coisas nunca mudam..." sorri de novo. O novo é bom, o velho também, o caminho é melhor ainda...
Paula Cristina.