Você sabe que perdeu a inocência quando descobre que suporta a dor. A dor do luto, a dor da culpa, a dor da separação, a dor da solidão, a dor... Você sabe que perdeu a inocência, quando percebe que tudo tem dois lados e, que portanto, em certa medida todos podem ser mal interpretados e podem mal interpretar. Você perde a inocência quando as noites de insônia te contam as coisas que você sabe não poder mudar. Você perde a inocência quando começa a procurar opiniões diferentes para formar a sua própria e, às vezes, chega a duvidar de si mesmo não por falta de confiança, mas por saber que você também é falho e muitas das vezes você estará errado. Mas você perde a inocência também quando começa a se perguntar o que é certo e o que é errado e se os dois não estão juntos, interligados, impossibilitados de separar. Você perde a inocência quando percebe que um simples texto que parece arrancar a alma pode ter menos que vinte linhas e, portanto, nada pode ser por completo medido. Você perde a inocência quando descobre que nada sabe e talvez, nunca saberá.
Paula C. Arrais