Como não acreditar em clichês, quando eu sou fruto dele?
Filha do amor, isso é tudo que eu posso me tornar. Não adianta tentar esconder ou fugir da verdade nefasta que sou. Quanto mais fujo do amor, mais eu me perco de mim mesma.
É curioso como algumas pessoas entendem o amor como algo sério, duro e difícil. E talvez seja se você busca esse amor como uma forma de garantia de sua felicidade. A questão é que o amor não é garantia de felicidade. O amor é um ato que nasce do servir. Mas não o servir capitalista de fazer algo para receber em troca. Este ato de servir deve ser puro, sem segundas intenções. Você intui a importância de uma ação e age servindo, entregando seu melhor, porque é necessário.
Muitas vezes o amor é confundido com sentimento, porque junto da intuição e da ação vem uma paz e uma alegria, que misturadas, trazem um sentimento inexplicável que para cada pessoa terá uma cor, um cheiro, uma sensação e uma lembrança diferentes, que combinados trazem emoções e sentimentos à tona.
O grande desafio é enfrentar as barreiras do narcisismo para intuir as necessidades do outro e agir sem ferir as nossas próprias necessidades. Saber amar é uma arte, exige olhar para dentro e para fora ao mesmo tempo. Exige silêncio, prática, escuta, entrega, intuição, criatividade, voz. Exige tudo que a sociedade costuma rejeitar. Exige tudo que o olhar para si mesmo requer.
Essa é a beleza e a sutileza do amor. O desafio constante e ininterrupto de ações práticas de compaixão e respeito. O mundo carece de amor. O mundo esqueceu como se faz para amar. E aqui estou eu resistindo, buscando diferentes caminhos, novos e antigos para encontrar formas de levar amor em lugares que têm tantas barreiras que chega ser difícil ver o céu ou o horizonte.
Inúmeras vezes retrocedo para respirar, me reencontrar e, então, sigo novamente meu caminho na esperança de encontrar a brecha no muro para levar amor nestes lugares onde o amor foi esquecido. Faço, nessas horas, uma oração silenciosa: "Que eu me lembre de quem eu sou. Que meus ancestrais me acompanhem e que meus medos sejam impulsos para o amor que carrego dentro de mim. Que eu seja o clichê que o mundo precisa".
Paula Arrais