Tinha me decidido a não fazer nenhum texto sobre o ano novo, tinha me decidido a deixar esse 2010 no passado, sem texto, sem lembranças. (In)felizmente me deparei com um dos textos mais pessoal e lindo e sincero que eu já tinha visto. Os textos de ano novo são tão clichês com os mesmos "que esse ano que vem seja melhor que o anterior" ou coisas do tipo e eu não queria algo clichê, porque o clichê remete ao passado e eu não queria relacionar um ano novo com um ano passado, com o passado. Mas este tinha um "que" a mais, uma inovação tentadora, um sorriso escondido, um metrô com explosivos, uma esperança escondida nas cicatrizes do mundo. E então de súbito eu me perguntei: "porque não um texto meu, sem esperança, sem medo, apenas um texto falando de uma mudança, de uma caminhada que muda a cada vírgula introduzida?" O passado sempre faz parte e eu não posso mudá-lo ou me esconder, lembranças são essenciais e no fundo eu sempre soube disso.
Esse ano que passou foi um pesadelo e um sonho. Não sei dizer se foi bom ou ruim, apenas foi. Foi um ano em que chorei, sorri, senti a chuva escorrer pelo meu corpo. Esse ano eu dancei, cantei, li, escrevi, bebi, comi, estudei, descansei, dormi, criei, comprei, fiz festas e jantares, fui a festas e jantares. De cada coisa que fiz, por algumas eu me apaixonei, por outras tomei repulsa e por outras ainda, me vi indiferente. Mas em cada uma delas, me permitiu olhar para dentro de mim e sentir cada pedaço que compõe esse ser que sou eu. Me emocionei, fui a recitais e concertos. Sorri para pessoas e vi pessoas sorrindo para mim. Algumas dessas pessoas eu conhecia outras eram apenas estranhos com a intenção de trazer um pouco de alegria ao mundo (e funcionou, todas as vezes um sorriso me escapou dos lábios, mesmo quando estava extremamente irritada).
Esse ano me trouxe antigos amores e novos amores e todos me foram tirados pelo destino (sendo eu ou eles a dar as costas um para o outro ou mesmo tomarmos caminhos diferentes). Conheci também amigos novos e alguns deles se mantiveram ao meu lado, outros foram apenas "amigos de estação". Encontrei antigos amigos e alguns eu mantive e estreitei os laços, outros ficaram no passado. Perdi pessoas queridas para a tão chamada morte e com isso descobri partes minhas que eu já não lembrava mais. Esse ano (re)aprendi a importância dos melhores amigos e dos irmãos e descobri que eu posso ser a pessoa mais odiosa ou a mais amada quando eu quero. Esse ano eu percebi o quanto tenho que caminhar para chegar aonde quero e comecei a caminhada. Aprendi a jogar coisas inúteis fora - tanto físicas quanto mentais (as histórias épicas em minha cabeça vão continuar sendo apenas histórias, não importa o quanto eu queira que não seja verdade). Esse ano novo pude ser tudo que eu amo ser e que sempre quis ser sem magoar ou assustar alguém que não esteja preparado para escutar minha verdade. Esse ano eu amei muito tudo ao meu redor e tive momentos de ódio mundial também. Esse ano eu me superei nas dores, nos amores, nas alegrias. Aprendi que sou mais forte com pessoas ao meu lado. Esse ano mudei tantos hábitos e tantas vezes mudei até de opinião, que acabo por confessar ser uma pessoa nova a cada manhã. Esse ano eu me apaixonei por mim pela primeira vez e o espelho me sorriu de volta contando que esse ano que passou não foi perfeito, mas se fosse eu não estaria aqui, dessa forma. Sem esse ano eu não sei quem eu seria por um dia, sem esse ano jamais teria o próximo. E o próximo não será perfeito, mas será lindo à sua maneira e eu espero que eu consiga ver sua beleza nos dias de tristeza, por que como todo ano, esse ano que vem agora trará sorrisos e lágrimas e suspiros assustados de quem se encontra em uma situação completamente inesperada. Neste 2011 eu desejo a você e a mim sabedoria, além de tudo.
Paula Cristina.