O dia começa e os pensamentos começam a encher a cabeça. É o trabalho a fazer, as contas a pagar, o livro para ler, os compromissos a cumprir, o almoço, o horário de descanso. Porque até para relaxar tem que ter horário marcado. Já não existe mais aquela calmaria, aquele dia relaxante que pode-se ouvir o canto dos pássaros. São festas de famílias, reuniões com os amigos, chá da tarde, hora do almoço... corre que tem compromisso. O domingo não existe e perde-se a noção do tempo. "Que dia é hoje mesmo?". As pessoas começam a preocupar, pensam que você não está bem, que precisa de remédio, de um médico: "Olha você precisa se cuidar". Mas e na hora do vamos ver? E na hora de você dizer que naquele dia vai ficar em casa descansando "O que? Eu disse, tá vendo, precisa de um médico. Olha, isso vai ser depressão. Quer ficar em casa, a encontrar a família ou os amigos... é, a coisa tá feia..." Tá feia mesmo, mas é só cansaço. É a necessidade de deitar a cabeça em um travesseiro, de ficar alguns dias sem fazer nada, de ouvir o som da brisa passando, os pássaros cantando. Um bom cházinho na mão e um nada de distração. É disso que eu to precisando.
A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem
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