O cheiro de café.
E essa vontade de escrever que se apossa de mim e me amordaça, mas não faz sair aquilo que está na ponta da mente, querendo surgir e não aparece. Não aparece por que de alguma forma dói. Incomoda. Quero dizer algo que não sai, simples assim. É preciso coragem do meu eu mais selvagem. Mas meu eu mais selvagem não quer lutar. Não hoje. Talvez nunca. Meu eu mais selvagem se emudeceu, escondeu, pediu trégua do mundo. Precisa descansar, nem que seja um pouco. Talvez amanhã ele volte com força para lutar, quando tiver descansado de tanta dor. Mas quando ela vai passar? As paredes fecham sobre ele, o mundo se tornou pequeno, os sorrisos se tornaram frouxos, os dias se tornaram vazios. O cinza tomou conta. Deixe-me dormir só mais um pouco. Deixe-me abrir um pote de café e sentir o cheiro tomar conta da sala, tomar conta de mim. Deixe-me respirar cheiros bons que me tragam de volta para casa. Tragam-me de volta a mim. Devolvam-me. Que eu me devolva com uma xícara de café recém passado que recendeia sob meu nariz. Fecho os olhos e sorrio. Quem sabe dormir?Alguma coisa pra me fazer dormir, aquietar a mente. O cheiro de café resolve. Só o cheiro. Não precisa tomar.
Só o cheiro serve.
O cheiro de café.
Cheiro. Café. Recendeia. Cheiro.
Café... me deixa dormir...
Café. Cheiro de Café.
Paula Arrais