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Funeral.

O véu escondendo seu rosto maquiado e borrado. O buraco no chão esperando para ser preenchido com os restos dele. Os soluços silenciosos obrigam as lágrimas a escorrerem pelo seu rosto. Os olhos ardendo, a garganta seca, a boca murmura palavras embaralhadas de tempos perdidos. Ele se foi e não há mais nada a fazer. O luto permite que se feche por alguns dias, precisa de si, de reorganizar todas as idéias e planos feitos. Mudar algumas coisas de lugar, jogar outras fora, viver para si dói muito. É mais fácil ter suas decisões tomadas quando se pensa em alguém a quem deve alguma coisa. Os abraços não acalentam, aliás não entende porque a abraçam, não quer abraços, nem palavras confortantes (elas não trazem realmente conforto). O lenço já não serve para enxugar as lágrimas de tão molhado que está. A noite chega, o cemitério fica vazio, não quer ir embora. O guarda a avisa que vai fechar e que ela tem que ir embora. Dirige, sem saber por onde está andando. Não vê nada além de suas lágrimas embaçando a visão. É aniversário dele. Entra no apartamento. Finalmente sozinha, toma um banho, senta na mesa para tomar uma xícara de café, acaba tomando café irlandês. Lê seu livro favorito para passar o tempo, dorme com a cabeça em cima da página que mais gosta, as lágrimas ainda escorrendo. Ele nunca mais fará parte de sua vida e ela seguirá em frente e aprenderá o que jamais aprendeu, apesar de afirmar tantas vezes que sim: amar-se. As lágrimas secarão eventualmente.
Paula Cristina.

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