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Dez dias

Dez dias. Sessenta e duas vidas entrelaçadas. Mal sabiam o que as esperavam. Cansasso, exaustão, cumplicidade, carinho, amizade, cuidado. Apenas palavras que não descrevem com exatidão o sentimento completo instaurado naquele grupo. O olhar vago e assustado de alguns se tornou forte e poderoso com o tempo, o olhar provocantes de uns inspirou outros. Todos se cuidaram pelos dias afora. As lágrimas caindo e molhando rostos, borrando-os, deixando-os um pouco difrente do que deveriam mostrar. Doía porque sabiam que tinham mudado, crescido, se sustentado ali. Por favor, tragam tudo de volta! O cansasso passa, as idéias fluem e tenho que praticar o desapego mais uma vez, como em tantas outras vezes. Mas a verdade é que praticar o desapego às vezes dói, porque é exatamente aquilo que sempre quis e nunca encontrou e de repente evapora das mãos como se nada existisse, a não ser a lembrança do que foi. E volta-se então, para aquela vida de sempre pacata, sombria, esperando ser algo que nunca foi, que será um dia, mas não se sabe quando ao certo. Como amei esses dez dias. Como chorei dentro da alma. Não, eu não soube praticar o desapego, não com os dez dias.
Paula Cristina.

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