Já estive em seu enterro tantas vezes em março que desconfio que os anos passaram e eu não notei. Olho o calendário e o ano continua o mesmo. Você vem e volta e eu o mato tantas outras vezes. Não sei se consigo lidar um dia sequer com essa loucura camuflada. Você me confunde, eu me confundo. Eu te confundo, você se confunde. É tudo tão nebuloso, tão obscuro. E aqui estou eu, finalmente em abril em luto por você mais uma vez e tudo que me vem à cabeça é se você realmente morreu, se vou aguentar mais uma ressurreição e morte desavisada. Eu não sei, mas como sempre, eu nunca sei. Você me machuca, eu me machuco. Eu choro e o eco não responde. EU CHORO SOZINHA.
Não vou beber, não hoje, estou de luto. Não vou sair, não hoje, estou de luto. Vou sorrir e lembrar uma última vez. Lembranças pertencem ao passado e é lá que eu espero que fique (controvérsias à parte, você não vê meus gestos rápidos condenando a mentira que acabo de contar tentando convencer principalmente a mim). Amanhã eu vou acordar e vai ser um novo dia, com novas horas e novas histórias. Amanhã meu rosto vai acordar inchado, mas há sorrisos e maquiagens para esconder as marcas das dores de hoje. E quando amanhã eu acordar, você terá sido enterrado e eu terei chorado. Amanhã, porque hoje as lágrimas escorrem e caem para as novas cicatrizes que você, tão arduamente planejou.
O amanhã chegou e o alivio não passou...
Paula Cristina.
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