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Queria momentos, e só.

A menina no vestido azul passava tranquilamente pelo corredor fingindo não procurá-lo. Os quartos se abriam a medida que passava, mas todos vazios, pareciam caçoar do desejo escondido que tinha de encontrá-lo. Desistiu, sentou a um canto, quase corroendo-se por dentro e acabou por adormecer em cima de alguns livros caídos de pilhas e pilhas baseadas no chão. O cheiro de livro de biblioteca inundava seu corpo e dormiu ali, sonhando, sentindo o cheiro dele a cada expiração. Sentia o cheiro dos livros e o cheiro dele. Tudo se misturava em uma dança sensual. Acordou assustada, não se lembrava de adormecer. Pegou seu som portátil e se dirigiu à entrada da biblioteca. O barulho dos passos faziam-na olhar com a esperança cabulosa de ser ele, quando era óbvio que não seria, ele não frequentava ali, pelo menos, não até onde sabia. As músicas eram todas para ele. Desligou o som, estava tentando não pensar nele. A luz do dia estava diferente, tinha que comentar aquele fenômeno com ele. Não, ele não, de novo? "Não posso pensar nele", mas quanto mais se impedia, mais pensava. No final das contas desistiu de não pensar nele. Pensou, pensou muito. Pensou tanto que ligou. Ele do outro lado da linha dizia que sentia saudade. Ela pulou por dentro, o coração acelerado. Será que ele também esforçava-se para não pensar nela? Torcia que sim, fingia que não. Se acreditasse piamente nisso, as esperanças de serem um casal aumentariam e ela não queria criar esperanças, queria simplesmente viver aquele momento e poder dizer boa noite a ele quando for dormir. Queria momentos, e só.



Paula Cristina.

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