Pular para o conteúdo principal

Medo

Os homens debaixo daquelas capas escuras. Homens! Sim, homens! Nunca percebia e de repente "boom!"... a bomba sobre meus pés... meu medo era de homens, encapuzados, preconceituosos, desumanos, psicopatas, inconsequentes. Não tenho medo de coisas além, tenho medo do que estes homens se tornarão. Não tenho medo do desconhecido, mas da vida desconhecida destes homens. Não tenho medo do mundo, mas das atrocidades destes mesmos homens, que de tanto matar, brutalizar e incompreender trouxeram dor e horror ao mundo. Culpo um pouco demais os homens e coloco, sem querer, as mulheres como vítimas, mesmo que lá fundo, sei que essas perversidades são de ambos. São esses horrores que não me deixam pregar os olhos de noite, os horrores de histórias que poderiam acontecer pelo descuido e delinquência de tantos outros "humanos". E as capas escondem os rostos, representam o desconhecido, o horror, a escuridão de não enxergar nada além do tecido. Confesso ter medo de humanos. Tenho medo de minha própria raça, que de tanto desejo pelo poder e imortalidade esquecem que existem outros iguais, que vivem juntos e se ajudam. Me assusta a falta de respeito ao outro, o egoísmo exacerbado e a individualização doentia.
Ao descobrir que são homens, respiro fundo e enxergo o medo como um aliado que me alerta e me cuida tranquilamente para que eu possa fechar os olhos. Às vezes me esqueço que ele está ali para me proteger e então, nestes dias, eu não consigo pregar o olho. Tenho então, que achar meios para distrair minha cabeça tão imaginativa. Mas outros dias, deito no colo do medo e deixo que ele me nine e cuide dos meus sonhos para que meu sono seja pacífico e restaurador. E quando eu acordo, estou preparada para enfrentar os fantasmas que nós humanos criamos para nos manter vivos, fortes.


Paula Cristina.

Comentários

  1. Muitas pessoas dizem sentir medo de ver/sentir fantasmas/espíritos... Eu acredito que estes(se realmente existirem, e acho que existem) não são capazes do que o ser humano vivo é capaz de fazer, então, não há o que temer.

    Só sei que minha espécie me assusta.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ao léu

A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem

A voz no telefone

O telefone tocou uma, duas, três vezes e do outro lado uma voz diferente, mas conhecida atendeu. Estava tão perdida em pensamentos e barulhos externos e internos que não conseguia raciocinar de quem era a voz. "Quer falar com quem?" - perguntou. Responde o nome da amiga. "Ela não está aqui agora, quem é?". "Mary Anne." a voz responde: "Mary Anne? Quando ela voltar, aviso que você ligou. É o Thomas quem está falando." Ela responde "Quem?", ele: "Thomas". Ficou sem reação. Ele sabia que era ela, tinha certeza agora. A pergunta foi mais uma forma para dizer quem falava. O coração bateu acelerado. Será que era ele mesmo? Existem tantos Thomas no mundo. Mas não, devia ser ele! Só podia ser ele! Desligou o telefone, ainda sem reação. O sorriso se alargou na face. Que saudade. Que saudade. Paula Cristina.

Clichê

Como não acreditar em clichês, quando eu sou fruto dele? Filha do amor, isso é tudo que eu posso me tornar. Não adianta tentar esconder ou fugir da verdade nefasta que sou. Quanto mais fujo do amor, mais eu me perco de mim mesma. É curioso como algumas pessoas entendem o amor como algo sério, duro e difícil. E talvez seja se você busca esse amor como uma forma de garantia de sua felicidade. A questão é que o amor não é garantia de felicidade. O amor é um ato que nasce do servir. Mas não o servir capitalista de fazer algo para receber em troca. Este ato de servir deve ser puro, sem segundas intenções. Você intui a importância de uma ação e age servindo, entregando seu melhor, porque é necessário. Muitas vezes o amor é confundido com sentimento, porque junto da intuição e da ação vem uma paz e uma alegria, que misturadas, trazem um sentimento inexplicável que para cada pessoa terá uma cor, um cheiro, uma sensação e uma lembrança diferentes, que combinados trazem emoções e sentimentos à t