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apenas se perder...

Ela sentou no meio fio. Passou as mãos pelo rosto. Não acreditava no que tinha acabado de presenciar. Respirou fundo, deixou um suspiro pesado sair de seus pulmões. Não queria pensar, conversar, nada. Não queria absolutamente nada naquele momento. A sensação de falta de ar a incomodava, mas tudo bem, daqui um tempo passa. Músicas e mais músicas surgiam em sua mente, mas não queria ouvir, não queria pensar, não queria cantar. Precisava de um pouco de silêncio, daqueles de meditação. Controlar o centro, conversar com seu centro, se restabelecer. Poderia ser o cansaço, mas não era só o cansaço. Era horas de sono mal dormido, preocupação desnecessárias de trabalhos ainda não planejados e futuros não resolvidos, medo de certos assuntos, irritação por certos momentos. Era um conjunto de coisas banais que se tornavam enormemente ameaçadoras diante da ansiedade dela. Levantou do meio fio e entrou na casa logo atrás. Tomou um banho. Aprendera que banhos rejuvenescem e relaxam como nunca, quem quer que tenha contado isso a ela estava certo, sempre funcionava. Foi colocando a roupa devagarzinho, pegou o celular, queria ligar, mas sentia que ia atrapalhar uma tarde calma com sua presença desconcertante. Não que fosse sempre assim, mas neste dia, estava cansada, meio incomodada com o mundo e não queria conversar. Iriam ficar ali, naquele silêncio estranho porque ela não aguentava, tinha que compartilhar seus momentos angustiantes com alguém. Não, de forma alguma. Jogou o celular de lado e saiu caminhando sem rumo. Queria se perder, por uns minutos singelos, apenas se perder...



Paula Cristina.

Comentários

  1. Se perder. Apagar, esquecer. Acordar depois de alguns meses com tudo resolvido, tudo deixado pra trás, esquecido, apagado.
    Tudo amenizado, anestesiado.
    Mas seria exatamente como não-viver.

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  2. Eu não havia percebido a relação entre o seu texto e o meu, mas a semelhança é inegável.

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