sábado, 30 de dezembro de 2017

Precisava agradecer.

Alguém, em algum momento da minha vida, me disse que a gente só escreve depois de amadurecida uma ideia. Que para a ideia começar a surgir no papel é preciso investimento naquela ideia. Ela não aparece do nada. Sempre concordei com isso, mas acho que nunca a compreendi de fato. Foi apenas hoje que o giro da chave se deu. É preciso incorporar a ideia antes, deixá-la entrar por todos os poros, transbordar na mente e no corpo. Talvez seja por isso que tenho tentado escrever sobre qualquer coisa e não surtia efeito: a ideia ainda estava adormecida, eu estava em processo. Só agora, de madrugada, consigo pôr os pensamentos em ordem coerente suficiente para escrever. Que saudade. E com ela vem uma sensação de deja vu ao me deparar com momentos de uma Rosy Delusion (ilusão otimista) tão bem descrita  por Rachel Hulin em sua prévia do livro Hey Harry, Hey Matilda. E é com essa sensação que dou um sorriso e agradeço tudo que me aconteceu até hoje em minha vida.
Agradeço pelas pessoas que estiveram em minha vida por curtos períodos, que me ensinaram, me deram o suporte e me permitiram ser quem eu precisava à época. Algumas eu percebi de cara a importância, outras me deixaram dores e só depois da ferida cicatrizada pude compreender a importância que tiveram para meu crescimento. Outras ainda, desconfio da importância pelas lições que tive, mas ainda não descobri qual foi o papel que tiveram; o que me faz refletir o quanto ainda preciso amadurecer.
Agradeço ainda àquelas que ficaram. Algumas vão e voltam com frequência e espero que se mantenham em minha vida, mesmo nesse vai e vem desenfreado, porque amo muito e lamentaria muito colocá-las na lista das que se foram, pois a saudade sempre bate. Aquelas que estão sempre aqui são, muitas vezes, as que eu esqueço de dizer com frequência o quanto eu amo, porque elas provavelmente sabem. Tenho mudado isso, ou pelo menos tentado. O medo de se comprometer assim fica menor com a prática e posso dizer com firmeza que esse medo quase não existe mais com a maioria das pessoas.
Existe um grupo um tanto quanto peculiar que é o grupo das pessoas recentes em minha vida. Aquelas que entraram a pouco tempo em minha vida, mas que eu gostaria de tê-las ao meu lado permanentemente. Por essas pessoas sou grata também. Com certeza fizeram toda a diferença em minha vida, de alguma forma.
Minha gratidão eterna por tudo que fizeram por mim, quer vocês saibam o que fizeram ou não. Quer eu saiba ou não. O fato é que eu só pude estar hoje onde e como estou devido à todos vocês e às reflexões que me levaram a este texto hoje. 31/12/2017. Último dia do ano. Último dia antes de um ano novo.
O que nos espera neste novo ano, quem sabe? A única coisa que sei é que algo em mim mudou nesta madrugada, algo em mim estalou o suficiente para eu conseguir escrever isso que eu tentei escrever durante uma semana e, simplesmente, não saía. Não estava pronto, não tinha transbordado.

Obrigada Caio. Você se torna a primeira pessoa da lista de agradecimentos, já que foi quem desencadeou todo um movimento de reflexão que eu não tinha conseguido fazer desde meu divórcio ao dizer a frase que ecoou em meus ouvidos todos os dias depois que eu a ouvi (com algumas alterações de palavreado, mas o sentido é o mesmo): "não é minha primeira opção, mas de que adianta ficar de braços cruzados?". Muito obrigada por me deixar sem graça o suficiente para que eu me permitisse a leveza que eu precisava reencontrar e simplesmente não conseguia.  a me desconcertar o bastante e, ao mesmo tempo, me deixar confortável para ir e vir. Era tudo que eu precisava para me olhar sem medo. 
Obrigada Amor por me dar o espaço e a aproximação necessárias de acordo com o que eu precisei este ano. Seu timing foi impecável e sua companhia mais que necessária. Eu te amo muito!
Obrigada Sis pelo apoio incondicional e sempre presente. Pelo ouvido silencioso, pelos abraços e as horas de séries, filmes e fofocas que eu tanto precisei quando me senti mais sozinha. Amo incondicionalmente!
Mamãe e Papai. Não poderia deixar de agradecer, vocês realmente são um misto de coisas e ainda temos muito o que crescer juntos. É mais difícil dizer que eu amo vocês do que pra qualquer outra pessoas, provavelmente, por causa de nossa relação dual, mas não tem como negar. Muito obrigada pelos puxões de orelha necessários e aqueles que eu nunca entendi o motivo. Muito obrigada pelo apoio, mesmo quando foi extremamente doloroso para vocês fazê-lo.
Em especial são vocês, que contribuiram para a minha paz interior em um dos momentos mais turbulentos da minha vida. A minha eterna gratidão. Que 2018 venha com todos os sorrisos que vocês me deram, mesmo sem saber.

Paula Arrais.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Suspiros no frio

O farfalhar das folhas denunciava o vento frio que chegava contando do inverno. Tempo de recolhimento. Os pássaros cantavam ao longe fazendo uma sinfonia que, mesmo assim era harmoniosa apesar de tudo. Sons, timbres, cores e intensidade se misturavam e davam uma música natural e agradável aos ouvidos. O gato na soleira da porta, dormia tranquilo, ignorando a presença dele. Ao longe, próximo ao bosque, ela brincava de girar e cair na grama gelada. Ele sorriu. Ela não viu. Estava muito ocupada rodopiando para ver seu hálito formando um círculo de fumaça ao seu redor. Era o que ela mais gostava de fazer nessa época, brincar de suspirar para ver sair fumaça, porque fumaça é calor, é sinal de vida pulsante, é sinal de sorrisos e olhares. Sinal de amor.
Ela sabia e ele também. O cachorro pulava ao redor soltando baforadas também ao redor dela para tirar-lhes gaitadas boas da risada alegre e descontraída que ela levava consigo. Amor. Amor. Amor. Suspiros no frio.
Paula Arrais

domingo, 7 de maio de 2017

Oportunidades

Em meio a luz, cores, sons, sorrisos, olhares, toques e palavras a vida tomava forma. As cortinas se abriam para um mundo outro que trazia consigo a verdade de cada um ali presente. Escondidas pelos cantos dos olhos, essas verdades se faziam presente nos movimentos, marcavam presença nas palavras recitadas, oculpavam espaço nas colchias e no palco.
Melodias inteiras tocadas enchiam o coração, as vozes e os movimentos. Faziam parte dela de uma forma que jamais poderia explicar. Estava onde deveria estar, em casa e sonhando com momentos futuros. Que mundo lindo. Mundo dela. E o sorriso abriu seu rosto, dando o acalento de dias vindouros.
Quer isso, sempre. Quer o palco, as colchias, os ensaios, as luzes. Quer script, partitura, maquiagem e figurino. Quer trocas, sorrisos, olhares, sons e cores. Quer ser mais do que hoje e buscar sempre se superar. Quer força e coragem e, acima de tudo, oportunidades.



Paula Arrais

Beijar

Ela andava com seu vestido verde, refletido no fundo de seus olhos. O brilho deles denunciava toda aquela vontade. Desejo ardente. Falava gesticulando para ver se a ansiedade esvaía de seu corpo; se o tremor no corpo passava. Não era frio, era energia pulsando, vibrando, querendo sair. Olhava de esguelha pra ele. Qualquer movimento brusco denunciaria seu nervosismo. E ela, sempre tão segura de si, não deixaria ele ver que ele era sua fraqueza. Sentaram naquele mesmo lugar de tempos atrás e, de repente, o silêncio os consumiu, a consumiu. 
Tudo que restava era aproveitar a oportunidade que surgiu. Brincou com um graveto como quem não quer nada. Sabia que ele a olhava. Chegou mais perto. Fez um comentário qualquer. Chegou mais perto. O desejo ardia em seu peito, fazia as mãos tremerem e as borboletas em seu estômago baterem as asas o mais rápido possível, no ritmo que também batia seu coração. Rápido. Cortante. Roubou o beijo. O beijo tão prometido. Mordeu seus lábios, porque podia. Era o beijo deles e beijo sem mordida não tem desejo. Desejo de algo mais. Desejo de mãos que soltam seu laço para acariciar o corpo. Descer e subir. Brincar com a pele. Acariciar, apertar, fazer sair gemido. Beijar.


Paula Arrais

O farol das Orcas

A imensidão verde azulada rodeando o branco arenoso sustentava a brisa calma que vinha do sul. A paz que embalava seus corações e o amor que sentiam um pelo outro eram enunciados pelo olhar silencioso que davam furtivamente um ao outro. O som das ondas batendo acompanhava seus corações embalados por um ritmo leve. As cores em tons pastéis pintavam quadros de dois amantes apaixonados no pé do farol olhando as orcas brincarem. Amor. Era tudo que tinham.

 Amor é o que eu tenho para hoje.

Paula Arrais

domingo, 23 de abril de 2017

Cheiro de Café (uma associação livre)

                                                O cheiro de café.




E essa vontade de escrever que se apossa de mim e me amordaça, mas não faz sair aquilo que está na ponta da mente, querendo surgir e não aparece. Não aparece por que de alguma forma dói. Incomoda. Quero dizer algo que não sai, simples assim. É preciso coragem do meu eu mais selvagem. Mas meu eu mais selvagem não quer lutar. Não hoje. Talvez nunca. Meu eu mais selvagem se emudeceu, escondeu, pediu trégua do mundo. Precisa descansar, nem que seja um pouco. Talvez amanhã ele volte com força para lutar, quando tiver descansado de tanta dor. Mas quando ela vai passar? As paredes fecham sobre ele, o mundo se tornou pequeno, os sorrisos se tornaram frouxos, os dias se tornaram vazios. O cinza tomou conta. Deixe-me dormir só mais um pouco. Deixe-me abrir um pote de café e sentir o cheiro tomar conta da sala, tomar conta de mim. Deixe-me respirar cheiros bons que me tragam de volta para casa. Tragam-me de volta a mim. Devolvam-me. Que eu me devolva com uma xícara de café recém passado que recendeia sob meu nariz. Fecho os olhos e sorrio. Quem sabe dormir?Alguma coisa pra me fazer dormir, aquietar a mente. O cheiro de café resolve. Só o cheiro. Não precisa tomar.                      



                  Só o cheiro                                                          serve. 

                                                  O cheiro de café. 

Cheiro.                      Café.                          Recendeia.                      Cheiro.


Café... me deixa dormir...

Café. Cheiro de Café.



Paula Arrais

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Precisava saber como era.

Luna sentou na borda da sacada. Os braços apoiados no parapeito, os pés soltos a balançar para fora, o olhar distante. Estava na hora de agir. Durante meses se viu em uma luta constante com seu coração. Deu-se alguns meses para acostumar à sua nova situação. Precisava saber se o interesse naquele outro homem era genuíno ou apenas efeito de uma vida que não ia bem. Concluiu, finalmente: era genuíno.
Foram dias, meses, anos de flertes ininterruptos, olhares furtivos, mensagens trocadas, noites sem dormir, sorrisos e toques sutis. Estava finalmente na hora de agir. Marcou com ele. A espera. A es-pe-ra. Que ideia foi essa de marcar horário? Podia ter esperado um daqueles dias que sempre o encontrava, mas não! Tinha que marcar com ele. Agora estava presa a uma ansiedade sem fim, que parecia, não acabaria nunca.
As mãos tremiam. O coração palpitava tanto que faltava saltar pela boca. Suava frio.
Vagou pelo pensamento, procurando lembrar tudo que tinha ensaiado na frente do espelho. Agora já não lembrava de tudo que planejara e algumas coisas soavam ridículas. Não teria tempo de mudar, teria que improvisar. Só que improvisar quando se está nervosa nunca foi seu forte. Respirou fundo. "Inspira. Expira." dizia a si mesma. E nessa tentativa de se acalmar não o percebeu chegando. Sobressaltou-se ao ouvi-lo chamá-la. Agradeceu por não ter pensado em voz alta, não sabia à quanto tempo ele estava lá.
Luna levantou, cumprimentou e em questão de segundos avaliou a situação, preferiu dar um beijo na boca dele. "Precisava saber como era." disse em desabafo. Era tudo que ele precisava saber. Era tudo que ela precisava saber... E assim foi o dia na borda da sacada.


Paula Arrais

Carta a Amandinha

E hoje é seu dia e venho pensando em nós por muito tempo. Fiquei rindo: é seu diz e vou falar de nós? Sim, porque eu sei que amar é se mistu...