quinta-feira, 13 de maio de 2010

Crise do dia

De repente tudo saiu de foco e ser Alice era tudo que se queria por um momento. Se não tivesse jeito poderia ser Pollyana ou Luna ou uma outra qualquer, mas ser naquele momento si mesma não estava adiantando muito. Irritou-se ao ver pessoas conformadas olhando-a como se fosse outro dia mais, um dia sem nada fora do comum. Aquilo não era ela. Costumava sentar no meio fio e passar horas e horas lendo, gostava de ficar a vaguear por aí como um cachorrinho sem dono se esbaldando com açaí ou picolé de limão. Chegava a cojitar a idéia de fugir de casa, se tornar viajante e trabalhar o necessário para comer e ter um agasalho na mão quando precisasse. Nunca o fez, pois como já dizia Kafka: é mais fácil ir por caminhos que não se quer, assim não existe frustração de não se ter chegado longe. A questão é que de tanto se sentir presa passou a desenvolver hábitos desagradáveis para poder fugir da dor aflingida por si mesma. Tal qual dizia um poema: que eu não me desvie do caminho e se, por acaso o fizer que me jogues uma dor tão grande e traiçoeira que me faça voltar a mim. Amaldiçoada pelo poema que fizera de prece por tantos anos estava agora dividida entre a morte emocional e a morte social. Tudo tão ligeiramente entrelaçado, um não poderia viver sem o outro e por isso deveria achar uma outra solução para a vida. Queria viver, apesar de tudo amava a vida, o problema era achar uma saída dentro de um vulcão, na sua parte mais escura e prestes à erupção.
Paula Cristina.

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