O moço da mácara a encarou por trás das cortinas chamiscadas de inverno. Ela não sabia o que era dela e o que era dele. Esqueceu-se de si por um segundo, tempo suficiente para enlouquecer o pouco que restava de sua sanidade. O que fazer a partir dali só ela sabia e, na verdade, não fazia idéia. As cartas escritas no passado a deixavam segura: nunca as mandaria, mas tiraria o peso de anos empurrando seus ombros para baixo, amordaçando o ânimo que deveria ter e já não tinha. O tempo presente era vivido como um casual outrora. Ele não percebia as máscaras que ela, também, carregava consigo. Traiçoeira por si só, jamais deixava transparecer sua dor porque a dele devia ser mais dolorosa que a sua, mesmo que na aparência. Como se passassem os anos, cansada daquela máscara foi para seu quarto, tirou-a e deixou-a junto a tantas outras tiradas do bolso e repostas quando saísse. Deitou a cabeça no travesseiro e dormiu. Ele entrou no quarto e se apaixonou pelo rosto seu sem cor, pálido e frio, sedento de amor. Casou-se com ela e a amou e foi amado durante a noite quando suas mácaras caíam disfarçadamente por suas faces enquanto dormiam. Nunca perceberam que durante a noite viam seus rostos como eram e se amavam por isso. Ele nunca contou, com medo de que ela o deixasse e ela o mesmo. Nenhum dos dois sabia que o que os mantinham juntos eram as verdades das noites sem sono, o encontro de suas essências. Os bastidores sempre foram mais lindos. Artistas se tornam artistas não só pela exposição, pelo narcisismo, mas também por prazer, alegria e ansiedade dos bastidores, quando juntos colocavam máscaras e quando juntos desfaziam delas e quando finalmente se lembravam que eram humanos, mesmo não se sentindo parte do mundo. Aquele era seus mundo. Aquelas eram suas mácaras e os aplausos eram seus e eles eram aceitos em um palco por serem diferentes, únicos e amados. Viveram e se amaram e não souberam do outro.
Paula Cristina.
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