quinta-feira, 3 de junho de 2010

O dia secreto

A sala escura, fria e silenciosa. Quase não se percebia a menina brincando de quebra-cabeças em um canto. "O que faz aqui?" - perguntou a mulher contendo o susto. "Estava esperando a senhora. Queria saber se sou louca". A mulher olhou-a nos olhos da garota e percebeu a dificuldade que ela tinha em conter as lágrimas que se formavam sobre seus olhos. "Claro que não" - respondeu a mulher se perguntando o que levara a garota a fazer uma pergunta daquelas. A menina, como que percebendo a indagação da mulher, responde as pessoas diziam que ela é louca porque escreve histórias que passam detalhadamente em sua cabeça e quase se tornam reais de tão insistentes que são. A mulher sorriu, "você não é louca, é artista. Loucura seria se deixasse de escrever, aí quem sabe as histórias realmente seriam reais e talvez eles se envergonhariam de não ter aceitado um simples texto". A garota, mais calma agora, com as lágrimas enxutas, levantou e já se dirigia à porta quando a mulher olhou o relógio. Já passava da meia noite. "Tem alguém te esperando lá fora?" - perguntou. "Não, estão todos fora de casa, nem sabem que saí e agradeceria se não contasse a ninguém sobre isso". A mulher meio desajeitada ofereceu carona, mas a menina recusou dizendo que precisava ficar em silêncio para desenvolver a história que estava em sua cabeça ou a história se perderia para sempre junto de uma parte sua. A mulher ofereceu mais uma vez e prometeu ficar em silêncio. A menina aceitou. E foram pelo caminho. Nem mesmo se despediram, de tão profundo era o silêncio. O portão da casa se fechou atrás dos cabelos castanhos da menina. A mulher seguiu seu curso. Ninguém soube daquele dia, ele nunca fora mencionado. O dia ficou marcado como o início do auto-conhecimento sucedido pela garota. Ela jamais foi a mesma.
Paula Cristina.

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