Pular para o conteúdo principal

De novo

Como era de se esperar, ultimamente ela estava em constante entrave com suas emoções. Vivia a chorar sem motivo algum (quer dizer, motivo tinha, mas energia pra chorar nunca teve até agora). Ele a viu chorar como sempre e ficou a se perguntar "porque, porque ela chora tanto?" e ela sem saber respondia silenciosa "eu não sei, alguma coisa mudou, alguma coisa em mim que me faz tão naturalmente triste e tão naturalmente louca e tão naturalmente feliz". Cada sentimento surgia atropelando o outro contando dos medos e inseguranças que nem ela mesma percebia ter dentro de si, por tanto tempo escondidos vida afora. Agora essa mudança repentina a fazia se perguntar quem a mudou: ela, o mundo ou ele? De acordo com ele, ninguém muda, só desconhece, mas sua vida, suas experiências e seus estudos levavam-na a questionar isso. Todo mundo muda, é uma questão de querer. E a pergunta continuava. Mas ultimamente duvidava até de si, das verdades que veio construindo e do mundo que pintou tão bem. Não acreditava em nada, mas acreditava em tudo e a contradição a confundia a cada passo que dava. O que fazer quando não se tinha a resposta mais simples. Não sabia nem ao menos o que queria. E o mundo dando voltas, não espera ela resolver e assim ela vê que não só o mundo dá voltas, ela também. E o dia vai, as horas vêm e a confusão mental sempre encontra um meio de começar de novo e de novo e de novo....


Paula Cristina.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ao léu

A noite escura, os passos largos, o banco da praça escondido pelas sombras, a cerveja numa mão, o cigarro na outra. Soltou o cabelo, a medalinha na mão. Riu de si e de seus meros surtos, aqueles tão antigos que nem se lembra quando foi a última vez que os deixou se apoderarem. Fechou os olhos e recitou, utilizando toda a energia restante, aquele poema tão antigo quanto sempre soubera. Enquanto recitava bebericava da garrafa de cerveja, sentindo o líquido escorrer pela garganta, leve, solto, ondulante. Cansou do cigarro, mas deixou-o ali, queimando, apenas para sentir o cheiro da fumaça dançando sobre seu corpo. Lembrou daquela canção que cantava quando estava feliz, riu-se. Onde já se viu: triste, lembrar de momentos felizes. Não fazia um pingo de sentido, mas mais uma vez, nunca fez sentido, nem mesmo para si. Assistiu a morte chegando devagar e impossibilitando um gato na rua. Não moveu um músculo, não se importava, pelo menos não hoje. Fuzilou a noite com um olhar avassalador. Quem

A voz no telefone

O telefone tocou uma, duas, três vezes e do outro lado uma voz diferente, mas conhecida atendeu. Estava tão perdida em pensamentos e barulhos externos e internos que não conseguia raciocinar de quem era a voz. "Quer falar com quem?" - perguntou. Responde o nome da amiga. "Ela não está aqui agora, quem é?". "Mary Anne." a voz responde: "Mary Anne? Quando ela voltar, aviso que você ligou. É o Thomas quem está falando." Ela responde "Quem?", ele: "Thomas". Ficou sem reação. Ele sabia que era ela, tinha certeza agora. A pergunta foi mais uma forma para dizer quem falava. O coração bateu acelerado. Será que era ele mesmo? Existem tantos Thomas no mundo. Mas não, devia ser ele! Só podia ser ele! Desligou o telefone, ainda sem reação. O sorriso se alargou na face. Que saudade. Que saudade. Paula Cristina.

Clichê

Como não acreditar em clichês, quando eu sou fruto dele? Filha do amor, isso é tudo que eu posso me tornar. Não adianta tentar esconder ou fugir da verdade nefasta que sou. Quanto mais fujo do amor, mais eu me perco de mim mesma. É curioso como algumas pessoas entendem o amor como algo sério, duro e difícil. E talvez seja se você busca esse amor como uma forma de garantia de sua felicidade. A questão é que o amor não é garantia de felicidade. O amor é um ato que nasce do servir. Mas não o servir capitalista de fazer algo para receber em troca. Este ato de servir deve ser puro, sem segundas intenções. Você intui a importância de uma ação e age servindo, entregando seu melhor, porque é necessário. Muitas vezes o amor é confundido com sentimento, porque junto da intuição e da ação vem uma paz e uma alegria, que misturadas, trazem um sentimento inexplicável que para cada pessoa terá uma cor, um cheiro, uma sensação e uma lembrança diferentes, que combinados trazem emoções e sentimentos à t