quinta-feira, 24 de março de 2011

no final das contas...

Sentei no meio fio, procurando alguma mão para segurar, alguém para me dizer que as coisas não são assim tão cinzas, tão leves a ponto do vento levar, tão embaçadas para não enxergarmos por dentro. Doía tanto, mas de todo jeito quantas vezes já não havia doído? A carta que eu nunca entreguei, na mão, já estava toda amassada de tanto aperto, de tanta angústia contida. Você não estava em casa, eu sabia, fui apenas para deixar a maldita carta na caixa de correio. Não tive coragem. Meus medos sempre me ameaçaram, meus medos insensatos. Sou tão corajosa para tanta coisa, mas para despedidas nunca fui boa, a sensação de solidão me dói a mente, o corpo, a respiração falha e as lágrimas tendem a cair freneticamente. O poste da rua apagou sozinho e eu me mantive ali, impassível, procurando uma forma de olhar para aqueles portões uma última vez. Não soube fazê-lo. As mãos trêmulas rasgaram a carta em mil pedaços e deixaram ali, no lixo da casa. Assim eu podia fingir ter entregado e então, seria apenas uma lembrança ruim de afastamento inevitável. No final das contas lá estava eu, parada sozinha em uma rua deserta pensando qual o próximo passo a dar em direção ao novo presente... eu não sabia, não sabia caminhar mais de tanto engatinhar por ruas escuras e sem saída. As pernas tremiam, os ossos ardiam por dentro, a cabeça latejava. Peguei o carro e dirigi para um boteco qualquer. A dose de gim que pedi deixou claro a qualquer um que ali estava de que eu havia deixado no passado alguma coisa. A despedida é sempre com gim. Eu ofereço a ele um gim, se ele estiver lendo isso agora. Mas como a carta, ele provavelmente não vai saber que este texto existe e se algum dia alguma parte do que escrevi para ele for descoberta, torço que seja a parte do "eu te amo", porque no final das contas, eu o amo apesar de tudo.


Paula Cristina.

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