quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Loucura

Confesso escandalosamente que perdi a noção quando as botas tocaram o carpete macio. Meus pés soltos no ar pediam um chão em que pudessem fincar os dedos para confirmação de uma terra firme, segura. Não acharam nada além da nítida falta de juízo que se apoderava de minhas idéias insanas de liberdade extrema. E que liberdade! Depois de um tempo o corpo se acostuma com a loucura e, a procura por estabilidade é apenas durante uns míseros segundos em que se confirma que a certeza já era, sumiu. Os braços abertos, a brisa percorrendo todo o corpo, a adrenalina subindo às alturas. Como era fácil voar! De braços dados, esperando que qualquer coisa fizesse cair. E quando se pensou que não, o olhar estava lá e soube que sua liberdade era linda. A mais linda e pura de todas. Deitou a cabeça nas nuvens. Podia sonhar, pelo menos, aquele dia. As botas permaneciam ali, no carpete, agora já úmido. Esperaram por uma eternidade, quase se desmanchando em desespero de serem calçadas, mas não foram calçadas, nem seriam. Os pés tocaram o solo e eu, de modo louco e febril, sai correndo, esperando a brisa voltar, esperando a liberdade voltar. Elas voltaram e não quiseram sair. Hoje, pedem licença tantas vezes mais para se apoderarem por algumas horas de meu tempo e tudo que posso dizer é que fico feliz. Fico feliz de saber que ainda amo, que ainda me espanto e me acalmo. E quando a loucura bater eu a abraço bem forte, só pra ter certeza que ela permanece em mim. Eu a amo, porque ela é parte de mim.
Paula Cristina.

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