Não sabe se é dom ou maldição esse ir e vir consciente. Sabe que no fundo se importa, mas então, quando vê a dor que pode arrebatá-la e amordaçá-la, simplesmente vira na próxima esquina, se esquivando de tal forma que nem Freud explicaria. O controle se torna extremo e a tristeza de não tê-lo simplesmente paira em um "meio plano" considerado inexistente. Tudo muda e a paz instaura. A força volta de forma brutal e quando vê já não é mais a vítima, mas o caçador e tudo passa a não ter tanta importância quanto se pensava ter. Talvez a linha para a sociopatia esteja a milímetros, talvez seja apenas uma hipocondria aguda. Não sabe ao certo. As luzes começam a acender na rua. A música tocando suave um blues inconfundível, o barulho do msn, as teclas e o mouse usados compulsivamente. O livro de cabeceira em cima da mesa. O cigarro posto no cinzeiro com cuidado esperando ser reutilizado enquanto aceso. A cerveja também posta de forma a ser alcançada, o porta copo embaixo já molhado pelo tempo. A brisa leve entrando pela janela lembrando-a que existe um mundo lá fora e que ele é lindo e ela sorri por um momento enquanto mantém as mãos escrevendo, freneticamente escrevendo. Tudo parece tirá-la daquele transe que manteve por dias. Um transe inexplicável. Ela saía dele com a cabeça erguida, um sorriso no rosto e a forte vontade de sentir todas as sensações corporais possíveis. Uma boa comida, uma boa bebida, uma brisa suave, a água percorrendo seu corpo, o toque suave de uma roupa leve, limpa, o cheiro do perfume, o toque do hidratante, um livro, um silêncio, uma noite perfeita.
Paula Cristina.
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