sábado, 26 de fevereiro de 2011

A conversa

Os olhos atenderam àquela forma indiscreta de observação. Foi literalmente engolida até a alma, as roupas do corpo tentando esconder o pouco que escondiam por baixo daqueles olhos de raio-x. Queria sair dali, mas o orgulho não a deixava se desvencilhar. Escondeu um sorriso de divertimento por trás dos olhos fugazes e escorregadios que não deixavam ninguém encará-los por muito tempo. Segurou a ponta do vestido e, mantendo a conversa longa suficiente, ficou ali a rir de coisas que não tinham graça e a falar apenas o bastante para manter uma conversa meio fajuta e se manter em evidência como sempre dava um jeito de estar. Não tinha graça não estar em evidência. Gostava de ser o centro, falava baixo pra manter a pessoa atenta, sem tirar os olhos e se a pessoa desvencilhava, mudava um pouco o tom para ela se interessar de novo. O sorriso era para chamar os interessados (e os desinteressados também). O olhar para manter aqueles que gostavam do "olho-a-olho" e um pouco sedutor às vezes quando percebia um certo quê de interesse por parte da outra pessoa. Procurava sempre agradar, não porque precisava da aprovação, mas porque agradando, era mais fácil ter o olhar deles em cima de si. Procurava saber sobre coisas só para manter conversas (mesmo que chatas) e procurava esconder saber quando também não sabiam. Utilizava máscaras para se manter querida e esconder seu ser, sua essência. Às vezes isso gerava problemas, já que de tanto se esconder, se esquecia e tinha que começar todo um trabalho árduo de auto conhecimento, o que se tornou constante e necessário. Não conhecia ninguém por completo, mas fingia muito bem conhecer. Andava sempre sozinha (é mais fácil conhecer pessoas novas quando se está só) e as pessoas acabavam por acreditar que era solitária. Não se importava com isso, sabia que não era. Ouvia todos os estilos de músicas possíveis e com o tempo, acabou por gostar de todos eles. Se tornou fácil de agradar pelo gosto eclético que foi adquirindo durante os anos. Das bebidas, todas a agradavam, menos variações de refrigerante (refrigerante é coca-cola e ponto!). Gostava de filmes também e de livros, todos variados. Andava horas e horas em um silêncio profundo, conversando consigo em um divertimento profundo. Gostava da água passando por seu corpo, limpando tudo e relaxando cada músculo enervado. De repente acordou de seu devaneio sobre seu jeito com os olhos dele nos dela. Riu de novo e percebeu o perigo de estar ali, tentando se manter em um grupo que nem ao menos conhecia direito. As mãos já suando frio e agora, todos tentavam lê-la, se manter em uma conversa que ela não sabia quando tinham entrado. Disfarçando o desconforto, devolveu a pergunta a ela dirigida com outra pergunta mais ousada ainda. Não queria sorrir, mas o costume não a deixaria parar. Estava confusa e sem graça com o rumo da conversa, precisava mais uma vez de estar só para poder rir da situação sozinha e criar mundos e histórias novas a partir de uma simples fala, de uma simples conversa que não levava a lugar nenhum.


Paula Cristina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Carta a Amandinha

E hoje é seu dia e venho pensando em nós por muito tempo. Fiquei rindo: é seu diz e vou falar de nós? Sim, porque eu sei que amar é se mistu...