Os olhos procuravam com uma avidez por descobrir e não via, não percebia, não sentia. Era tudo incógnita. Ele cansou de procurar, ignorou os desejos de sua própria alma, focou em si. O puro egoísmo da solidão. Mas quem disse que o amor é reciprocidade? O amor é mais um meio termo de gostar e querer manter, mas de um egoísmo escondido, disfarçado de cuidado altruísta. Perdeu tudo, inclusive a dignidade para ter que reconstruir de novo. Alguém veio e o informou de que de nada adiantava tudo aquilo (e de fato essa pessoa estava certa). Fez então do amor um objeto fugidio, ridículo, esquecido - e esqueceu mesmo. Não sabia que aquele comichão era desejo, oprimira-o por dentro das roupas, da pele, dos ossos. Ninguém sabia que era o que o mantinha em pé, nem mesmo ele. Esqueceu assim, de si mesmo. Não fazia mal, não percebera até aquele ponto. Então em uma noite qualquer, descobriu querendo uma pessoa em especial, satisfez seu desejo, mas, ainda sim não foi suficiente, queria mais daquela pessoa. Manteve os encontros e então em uma noite qualquer, esse ser que surgiu do lugar menos esperado contou a ele sobre ele. Tirou o véu do desconhecimento pessoal e lhe contou que sabia do desejo dentro de seus ossos. Aquilo o abalou profundamente. Alguém o via e o devolvia para ele. Alguém passou e o viu, segurou-o e quase prometeu se manter ali. E ele então percebeu em um mero momento que se apaixonara e oferecera um lírio e este foi aceito com a maior das boas vontades. Foi assim que o amor voltou ao seu ser, foi assim que o amor adentrou cada poro de seu corpo e supriu todas as dores e medos e anseios. Foi assim que ele voltou a ser humano. Ele era humano e o objeto tinha sido encontrado. O objeto de seu afeto.
Paula Cristina.
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