E então em um piscar de olhos tudo ficou calmamente sombrio. Não se esperava nada daquilo, e sim sorrisos, olhares e amores. Ela se deitou sem saber o que pensar. Não sabe o tamanho da verdade nos olhos dele e teve que se contentar com palavras vazias e fora de sintonia. Sua preocupação é, na verdade, com si mesma e seus próprios sentimentos. Ela sabe que se ele a deixar, ela arranjará alguém para substituir seu lugar. O que ela se pergunta é se o vazio que ele deixou será preenchido algum dia, se tudo aquilo será diferente. E ela dorme entorpecida, esperando que ele simplesmente não a deixe. Lhe disseram que ela não ama, que ela não sabe o que é isso, que provavelmente ela jamais amará. Ela se pergunta se isso é verdade, e se for, o que ela fará com isso, pois ela quer alguém ao seu lado para dormir abraçado, para falar de trabalho, para fumar um cigarro, para beber algo, para passar os dias. Ela quer a companhia, o sorriso, o carinho, a compreensão, o cuidado, a atenção e os olhares dele. Ela quer sentir tudo que ela tem sentido mais uma vez. E ela adormece e acorda e passa o dia se perguntando as mesmas coisas. Já não quer mais pensar nisso. Atende o telefone, não é ele, são várias pessoas, mas não ele. A única ligação que a deixa em espera olhando fixo o telefone. Ele precisa de tempo, como ela também. Mas impressionantemente não é isso que ela acordou com vontade de fazer hoje. Tudo que ela quer fazer hoje é esquecer por alguns segundos o que será da casa sem os latidos de sua pequena companheira. Então ela fecha os olhos, procura fugir de tudo. Mas os pensamentos que a arrasaram ontem permanecem em sua mente. Não querem sair. E quer saber, ela não sabe se quer que eles saiam. Isso pelo menos a faz evitar de pensar outras coisas.
Paula Cristina.