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O triângulo inexistente

Ele amenizou um pouco a falta que ela sentia do outro, mas mesmo assim o medo é grande, medo de perder o que não se tem, mas que lutou tanto para ao menos ser, e é. O outro, na verdade não é o outro, é amor, é sentimento, é plano querendo ser verdade. Ela ficou confusa, assustada. Quer e não quer. Não quer porque o outro pode sumir e se ele sumir a idéia do amor que fazia vai se desfazer. E ela não quer que desfaça. Ele também não ajuda, ele é incerteza, imprevisível, como sempre foi. Ela não quer perder os planos, por um desfecho sem rumo, sem visão. Ele é temporário, o outro não. Ela quer ligar para ele, passar a noite em claro, como fez da última vez, mas não tem coragem. Não tem por todas as razões já ditas e as não ditas também. Ele não é o que ela sonhou, é algo diferente, ela odeia não seguir seus planos e ele não fazia parte, a não ser a parte de serem amigos, mas ele não fazia parte do modo que queria fazer. E ela deitou na cama e se pôs a meditar, tentando esquecer o mundo, tentando esquecer ele e o outro. E tudo que ela conseguia enchergar das imagens borradas em sua cabeça era ambos, interligados, sentados na mesma mesa de café trocando confidências.
Paula Cristina.

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