A muito não se escrevia bonito, nem tentava passar a beleza do mundo por entre papéis de cetim. Não fazia tanta diferença, a sua loucura havia tomado conta mais uma vez como em tantas outras. Até as vozes que insistia em ouvir agora eram lembranças falsas de um dia não vivido. As crises quase esquizofrênicas eram praticamente o modo mais seguro que tinha naquele tempo em que psicologia ainda não era ciência, não para religiosos. Sentada no canto escuro da sala, ela voltou a sentir a respiração compassada dele em sua nuca. Sabia que ele não estava ali, que era apenas imaginação. Aprendera que não deveria confiar em sua cabeça, não cem por cento e por isso calava quase sempre. Olhava em volta para ter certeza que sua alucinação era apenas isso, o hálito ainda permanecia, mas não havia ninguém. Acendeu a luz, sentou no chão e se pôs a meditar, como a muito não fazia. Não queria dormir, ainda sentia a presença dele em sua cama e isso a amedrontava. Só passando das cinco da madrugada sentiu que não precisava mais temer, a alucinação passara e ela podia dormir em paz.
Paula Cristina.
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