domingo, 21 de fevereiro de 2010

Identidade

Ela acende um cigarro, desvia o olhar, traga. Encara o jornalista. "Não sei se compreendi, assumo papéis porque é assim que tem que ser. Não dá para vivenciar, entrar em um mundo específico se não encaro o papel por completo." O jornalista a fita por alguns segundos e mantém a tensão ao máximo continuando a entrevista. "Acho, Clarice, que sua necessidade de assumir papéis é a tentativa de manter sua identidade oculta. Você quer que pensem que é do jeito que quiser, quando quiser e da forma que quiser. Seu íntimo permanece intacto, escondido, enquanto seu social parece por si só aberto. Você quer e não quer se fazer conhecer, mas tem medo das consequências". Ela olha desconfiada para o jornalista, apaga o cigarro, vai em direção ao carrinho de bebidas e prepara uma taça de gim com azeitona no fundo. Dá um gole, volta sua atenção ao jornalista e com um sorriso estampado no rosto acrescenta: "se já tem uma idéia formulada do que eu devo dizer, não importa o que eu responda, o que eu acrescente, ainda assim, chegaria a conclusão de que seu pensamento está correto. Portanto, não vejo razão de me fazer explicar idéias quando já as tem resolvidas em sua mente.". Abriu a porta do escritório e caminhou até seu carro. O dia estava lindo de morrer.


Paula Cristina.

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