Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava. Você é os nervos à flor da pele no vestibular, os segredos que guardou. Você é a praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema. Você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai. Você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas. Você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pêlo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta. Você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo. Você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar. Você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá. Você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta. Você é o que você queima.
Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta. Você é os direitos que tem, os deveres que se obriga. Você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca. Você é o que você pleiteia.
Martha Medeiros
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Você é todas as lágrimas derramadas e todos os sorrisos infiltrados. O mar que abraça o mundo, o estádio onde Deus e o Diabo jogam futebol. Você é a bebida mais quente e a mais fria também. Você é porto seguro e um vulcão prestes a erupção. Você é contradição, da mais pura, da mais real, da mais sincera, da mais traiçoeira. Você é metade. Metade mortal, metade imortal. Você é amor e ódio, esperança e desiluzão. Você é o filme de terror mascarado de canção de ninar. Você é a inocência brincando de esclarecimento. Você é tão puro quanto eu quero que seja e tão sujo quanto eu vejo. Você é o espelho disfarçado de realidade. Você é o Mestre Dos Magos. E quando pensam que não te desafiaria, é porque esquecem que sou mulher de Dumbledore. Não importa o que digam, você é o que eu vejo, e eu sou a dona deste mundo. No meu mundo esquizofrênico o fantoche é você. E então eu acordo, coloco os chinelos e sigo em frente, porque como eu, no mundo real, você é apenas você.
Paula Cristina.